Vivemos tempos em que se aplaude o vazio,
e se apedreja o que pensa,
onde a dúvida é fraqueza
e a certeza, mesmo estúpida,
vira bandeira.
Basta um grito com fúria
para silenciar um século de ciência,
e um vídeo mal montado
para enterrar mil livros.
A ignorância já não se esconde,
faz TikTok, e ri-se de quem lê.
Os piores perderam o medo,
porque os melhores perderam o fôlego.
E os líderes?
Não são guias, são espelhos partidos
de um povo que só vê o que dói
e segue quem promete vingança.
Não querem saber como o mundo funciona,
querem saber a quem culpar.
E o ódio, esse velho truque,
ganhou novo palco,
com luzes, likes
e um algoritmo que só serve o abismo.
Mas ainda há quem resista,
em silêncio, talvez,
em margens, em salas de aula,
em páginas que poucos abrem,
em vozes que preferem pensar
a berrar.
Tu, que lês,
tu, que vês,
não te cales.
O mundo precisa de gente lúcida,
antes que o ruído nos devore por dentro.
(Este poema nasce da constatação amarga mas necessária de uma tendência
crescente: o desprezo pelo saber, pela ciência e pelo pensamento crítico,
substituídos por opiniões fáceis, gritos e algoritmos que alimentam o ódio.
Inspirado na frase atribuída a Hannah Arendt, “Vivemos tempos sombrios onde as
piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança”, o poema
denuncia o ruído ensurdecedor da ignorância promovida nas redes sociais e nas
arenas políticas, onde o populismo ganha terreno à custa da verdade e da
lucidez. É também um apelo a quem ainda pensa e sente: que não se cale, que
resista.)
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