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sábado, 2 de agosto de 2025

Berro de Ignorância / J.M.J.

Vivemos tempos em que se aplaude o vazio,

e se apedreja o que pensa,

onde a dúvida é fraqueza

e a certeza, mesmo estúpida,

vira bandeira.

 

Basta um grito com fúria

para silenciar um século de ciência,

e um vídeo mal montado

para enterrar mil livros.

A ignorância já não se esconde,

faz TikTok, e ri-se de quem lê.

 

Os piores perderam o medo,

porque os melhores perderam o fôlego.

E os líderes?

Não são guias, são espelhos partidos

de um povo que só vê o que dói

e segue quem promete vingança.

 

Não querem saber como o mundo funciona,

querem saber a quem culpar.

E o ódio, esse velho truque,

ganhou novo palco,

com luzes, likes

e um algoritmo que só serve o abismo.

 

Mas ainda há quem resista,

em silêncio, talvez,

em margens, em salas de aula,

em páginas que poucos abrem,

em vozes que preferem pensar

a berrar.

 

Tu, que lês,

tu, que vês,

não te cales.

 

O mundo precisa de gente lúcida,

antes que o ruído nos devore por dentro.

 

 

(Este poema nasce da constatação amarga mas necessária de uma tendência crescente: o desprezo pelo saber, pela ciência e pelo pensamento crítico, substituídos por opiniões fáceis, gritos e algoritmos que alimentam o ódio. Inspirado na frase atribuída a Hannah Arendt, “Vivemos tempos sombrios onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança”, o poema denuncia o ruído ensurdecedor da ignorância promovida nas redes sociais e nas arenas políticas, onde o populismo ganha terreno à custa da verdade e da lucidez. É também um apelo a quem ainda pensa e sente: que não se cale, que resista.)

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