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sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Os Mortos da Fila

Esperavam trigo,

um punhado de arroz, talvez,

ou um pão seco para dividir com os ossos da fome.

Vinham sem escudo,

sem ódio,

com o ventre a gritar.

 

E o que lhes deram

foi chumbo.

 

Não havia armas,

apenas silêncio nos olhos,

e a esperança encolhida como uma criança

a dormir em pé.

 

Chamaram-lhes "risco",

"ameaça",

"massa indistinta",

mas eram pessoas,

tinham nomes ditos ao colo,

e mãos que antes seguraram brinquedos partidos.

 

Caíram uns sobre os outros,

como sementes pisadas

antes de germinar.

 

O sangue correu onde devia correr água

e o sol, sem piedade,

continuou a nascer sobre os escombros

de uma humanidade que se desfez.

 

Há uma ferida no mundo

que se abre cada vez que um corpo cai

a caminho do pão

e há covardes,

homens de uniforme e medo,

que matam a fome com balas

e dizem que cumprem ordens.

 

Mas há também quem assista

e escreva para que não morram duas vezes.

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