O Império ladra com dentes dourados,
tarifas e sanções como ossos lançados
a quem ousa ladrar no quintal errado.
No Brasil, os juízes julgam
com a Constituição em punho
e ouvem ao longe o som de açoites
vindos de Wall Street.
Trump não precisa de tanques,
tem moedas e microfones,
e uma multidão de servos bem vestidos
que chamam extorsão de “estratégia diplomática”.
Na Europa, as bocas engasgam-se em caviar,
democratas de verniz,
com discursos escritos por fantasmas
a soldo da NATO.
Na ONU, uma cadeira está sempre vazia
quando se fala da América do Sul
ou do sangue que escorre de Gaza
com a mesma cor do petróleo.
O mundo gira como satélite submisso,
calado, programado, omisso,
e cada vez que se ajoelha
Trump sorri
e Netanyahu assina mais um decreto
de impunidade.
E nós, poetas,
amadores do impossível,
tentamos gritar contra a surdez dos fortes,
escrevemos com sangue imaginado
por quem o perdeu de verdade.
Mas se a palavra for faca,
então que fira,
que rasgue a pele fina da mentira
até expor o osso podre da verdade.
(Este poema denuncia a submissão silenciosa da
comunidade internacional diante dos ataques económicos e políticos de Donald
Trump ao Brasil, bem como a contínua impunidade com que se perpetuam crimes
contra povos como o palestiniano. A "cadeira que está sempre vazia"
na ONU não é literal, representa a ausência de coragem, justiça e humanidade
por parte das instituições globais quando se trata de confrontar os abusos das
grandes potências. É o lugar simbólico das vozes que deveriam ser ouvidas e
nunca o são: as do Sul Global, as das vítimas, as dos povos esquecidos. Diante
do silêncio dos fortes, resta à palavra ferir.)
Sem comentários:
Enviar um comentário