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terça-feira, 5 de agosto de 2025

O Império fala, o mundo cala / J.M.J.

O Império ladra com dentes dourados,

tarifas e sanções como ossos lançados

a quem ousa ladrar no quintal errado.

 

No Brasil, os juízes julgam

com a Constituição em punho

e ouvem ao longe o som de açoites

vindos de Wall Street.

 

Trump não precisa de tanques,

tem moedas e microfones,

e uma multidão de servos bem vestidos

que chamam extorsão de “estratégia diplomática”.

 

Na Europa, as bocas engasgam-se em caviar,

democratas de verniz,

com discursos escritos por fantasmas

a soldo da NATO.

 

Na ONU, uma cadeira está sempre vazia

quando se fala da América do Sul

ou do sangue que escorre de Gaza

com a mesma cor do petróleo.

 

O mundo gira como satélite submisso,

calado, programado, omisso,

e cada vez que se ajoelha

Trump sorri

e Netanyahu assina mais um decreto

de impunidade.

 

E nós, poetas,

amadores do impossível,

tentamos gritar contra a surdez dos fortes,

escrevemos com sangue imaginado

por quem o perdeu de verdade.

 

Mas se a palavra for faca,

então que fira,

que rasgue a pele fina da mentira

até expor o osso podre da verdade.

 

 

(Este poema denuncia a submissão silenciosa da comunidade internacional diante dos ataques económicos e políticos de Donald Trump ao Brasil, bem como a contínua impunidade com que se perpetuam crimes contra povos como o palestiniano. A "cadeira que está sempre vazia" na ONU não é literal, representa a ausência de coragem, justiça e humanidade por parte das instituições globais quando se trata de confrontar os abusos das grandes potências. É o lugar simbólico das vozes que deveriam ser ouvidas e nunca o são: as do Sul Global, as das vítimas, as dos povos esquecidos. Diante do silêncio dos fortes, resta à palavra ferir.)

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