Há um ruído que não cessa,
mesmo quando tudo está calado,
um tambor oculto,
a bater dentro do peito
como quem anuncia
algo que nunca chega.
Acordo dentro do que sonhei
e o sonho não foi mais
do que o espelho
daquilo que carrego desperto.
Não descanso,
só adormeço de cansaço.
Há um fogo sem chama
a roer-me a garganta,
uma tensão que não se justifica
mas ocupa-me as acções,
os dias,
a respiração.
Os remédios adormecem as margens,
mas não calam o centro
e o centro fala,
com a língua do corpo,
sem gramática.
Se por vezes há um instante
em que tudo se suspende,
logo o medo vem lembrar
que não há abrigo duradouro
para quem sente,
como se o sentir fosse
a única forma de estar vivo.
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