Fazemos planos como quem constrói casas no vento,
traçamos rotas em mapas que se dissolvem ao amanhecer
e chamamos “futuro” a um nome que o tempo ainda não pronunciou.
Mas o dia, este, que respira agora,
é o único chão que não nos foge,
pois tudo o resto é horizonte, promessa que se dispersa por entre nuvens.
Nada nos pertence, e ainda assim tudo nos é oferecido.
O sol não promete voltar, mas regressa sem contrato, sem garantia,
apenas porque a vida insiste em recomeçar.
Entre o que temo perder e o que ainda não chegou,
há um intervalo sagrado: o agora,
e é nele que a esperança se constrói,
apenas com o sopro de quem acredita.
Não sou dono do amanhã, mas sou herdeiro do presente,
e ele basta-me.
Onde há respiração, há recomeço;
onde há um coração que persiste,
há sempre um futuro a nascer, silencioso, mas certo.
O instante suspende o tempo entre o que ficou e o que ainda se desenha.
Ser dono do presente não é limitar-se,
é reconhecer que a vida se revela nas pequenas certezas;
o café que arrefece, a luz que se deita,
o coração que bate, a respiração que confirma: estou aqui.
E nesse espaço, entre medo e confiança, entre perda e recomeço,
descubro que somos simultaneamente frágeis e eternos.
A esperança não exige posse,
e a lucidez floresce onde se aprende a confiar
no invisível que sempre sustenta o visível.
(Este poema foi inspirado no pensamento de Sêneca, sobre a brevidade da
vida e a impossibilidade de controlar o futuro.)