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quarta-feira, 29 de outubro de 2025

O Silêncio da Vida

No entrelaçar do ser e do não-ser,

a vida sussurra sua essência.

Não é no clamor do mundo que nos encontramos,

mas no silêncio que habita o coração.

 

A morte não é o fim,

mas a transição para outra forma de ser.

E o amor,

é a ponte que une os dois mundos.

 

Em cada gesto de carinho,

em cada palavra não dita,

a filosofia se revela,

não como um saber distante,

mas como a vivência plena do existir.

 


(Poema inspirado na visão de Tao Kwok Cheung, sobre a continuidade entre vida e morte, e sobre o amor como expressão natural da harmonia entre ser e não-ser.)

 

terça-feira, 28 de outubro de 2025

O Campo do Nada

Há um lugar antes do início,

onde o silêncio respira

e o tempo ainda não escolheu direção.

 

Ali, o ser adormece

no ventre do invisível,

e o nada é terra fértil

onde tudo germina.

 

Da ausência nasce a forma,

do vazio, o gesto,

e até a luz precisa escurecer

para renascer.

 

Nada é perda,

é retorno ao que sempre foi,

o espaço onde a alma

aprende a existir de novo.

 

 

(Poema inspirado numa ideia de Kitarō Nishida:

“O nada é o campo onde todas as coisas aparecem e desaparecem,

e por isso é o lugar mais pleno de ser.”)

 

sábado, 25 de outubro de 2025

Relatividade da Alma

Há um elétrico que atravessa o tempo,

metade feito de velocidade, metade de silêncio.

Na rua, o mundo corre como um sopro,

tudo é efémero e vertigem.

Lá dentro, o ar repousa,

e até o coração parece ouvir-se melhor.

 

Mas nada está parado,

nem mesmo o que julgamos imóvel.

O tempo dobra-se,

como se o universo respirasse em direções opostas,

e cada olhar criasse seu próprio compasso.

 

O que é o agora, senão o encontro

entre o que se move e o que observa?

O que é o ser, senão a vibração

que oscila entre a matéria e o sonho?

 

Talvez o segredo esteja nesse ponto suspenso,

onde o instante se contempla a si mesmo,

e tudo o que somos

é o reflexo de um movimento

que nunca começou nem termina.

 

E quando o elétrico segue,

vemos, por um momento,

que o movimento é ilusão,

e a imobilidade também.

O real é o que permanece invisível:

o centro quieto

onde o fluxo se inclina

e o ser se reencontra.

 

(Este poema inspira-se no princípio da relatividade, de Albert Einstein, não como teoria física, mas como metáfora do olhar humano. Assim como o tempo e o movimento dependem do ponto de observação, também a alma vive os seus instantes de modo distinto, conforme o lugar onde repousa o nosso sentir.)

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Liberdade Interior

A liberdade não é ausência de limites,

nem fuga das amarras do mundo;

é um estado de consciência,

um lugar interior onde o ser se mantém inteiro,

mesmo quando o vento sopra em direções contrárias.

 

Somos todos, em algum grau, prisioneiros

do tempo, da carne, do medo,

da palavra que disseram e ficou.

Mas há uma parte de nós que não se curva,

que observa o tumulto e permanece silenciosa,

como o olho tranquilo no centro do furacão.

 

Ser livre é lembrar-se desse ponto imóvel,

é não confundir a própria alma

com as paredes que a cercam.

 

Não se trata de escapar,

mas de habitar o mundo sem se perder nele,

de caminhar entre os ruídos

ouvindo ainda o som da própria respiração.

 

Porque a verdadeira liberdade

não depende do que nos cerca,

mas do que já despertou em nós,

o instante em que compreendemos

que nada pode aprisionar

aquilo que foi feito de luz.

 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Quando Pensar se Torna Perigoso

Há tempos em que pensar é heresia,

e a lucidez, um crime discreto.

Os que veem além da névoa

são tratados como os que a provocam.

 

Chamam-lhes arrogantes,

porque não temem a dúvida;

traidores,

porque não se ajoelham diante da multidão.

 

Mas o pensamento é chama,

pode queimar as mãos,

mas é ele que impede

que o mundo adormeça na escuridão.

 

Ser inteligente, quando o estúpido é rei,

é um ato de coragem silenciosa:

é escolher ver,

quando todos preferem a cegueira.

 

E mesmo que te chamem louco,

lembra-te;

toda a verdade começa

com o sussurro de um solitário

contra o coro do medo.

 

 

(Este poema inspira-se no espírito de Isaac Asimov, refletindo sobre a coragem de pensar e a inteligência frente a um mundo, que frequentemente celebra a ignorância e a violência como saída.)

A Alma e o Espelho (Entre o Fogo e a Água)

Em cada homem dorme uma mulher,

que sonha com a ternura que ele teme

e em cada mulher respira um homem,

que anseia pela coragem que ela contém.

 

Somos fronteiras móveis,

rios que trocam de margem,

quando a lua muda de lugar.

 

O que chamas força

é apenas o disfarce da fragilidade que cuidas,

e o que chamas doçura

é o poder de quem já conheceu o caos.

 

Há um templo dentro do peito,

onde o masculino e o feminino se ajoelham,

não para dominar,

mas para reconhecer-se.

 

E quando enfim se olham,

não há mais guerra,

nem género,

nem solidão.

 

Há apenas o Uno,

suspenso entre o Fogo e a Água,

onde cada alma, enfim,

se torna inteira.

 

 

(Este poema inspira-se num pensamento de Carl Gustav Jung, sobre a presença do animus e da anima, o masculino e o feminino que coexistem em cada ser humano. Mais do que opostos, são forças complementares que buscam reconciliação. “A Alma e o Espelho” reflete esse encontro interior, onde fogo e água, razão e sentimento, coragem e ternura deixam de se combater e tornam-se uma só essência.)

 

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

O Mestre e o Amante

Há em cada ser dois que se buscam:

um que ensina o caminho,

e outro que o percorre.

 

O mestre fala em claridade,

mas é o amante quem o compreende,

porque o desejo é uma forma de escuta.

 

O saber quer eternidade,

o amor quer presença,

e ambos se curvam um diante do outro,

reconhecendo-se na imperfeição.

 

Quando se tocam, o tempo suspende o fôlego:

a carne aprende o verbo,

e o verbo aprende a sentir.

 

Não há hierarquia nesse encontro,

nem queda, nem ascensão,

há apenas o instante em que o humano

se torna templo,

e o divino, respiração.

 

 

 

(Este poema nasce do encontro entre o mestre e o amante, duas forças que habitam o mesmo ser. Pode ser lido como a história de dois homens que se encontram, ou como o gesto secreto que une espírito e carne, ensino e desejo. Não define, apenas revela o instante em que o humano toca o divino.)

 

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Cada Dia

Vive este dia

como se fosse o único,

porque é.

 

O passado já se desfez

no pó das tuas memórias,

e o futuro dorme ainda

no ventre do possível.

 

Só este instante respira contigo;

é nele que o tempo se curva

para te oferecer sentido.

 

Não peças mais do que ele traz:

um sopro, uma luz breve,

um gesto que pode mudar tudo

ou nada,

mas é teu.

 

E se o viveres inteiro,

sem fuga nem espera,

terás tocado, por um momento,

a eternidade.

 

 

(“Cada Dia” inspira-se num pensamento de Sêneca sobre o tempo e a serenidade: o convite a viver o presente como uma vida inteira, sem ser prisioneiro do que já passou nem do que ainda virá. O poema reflete essa filosofia estóica, a arte de habitar o agora com plenitude, reconhecendo que cada instante, quando plenamente vivido, contém em si a eternidade.)

 

Quando a vergonha se perde e o respeito se esvai

Quando os que comandam esquecem a vergonha,

o poder torna-se sombra, pesada e sem rosto.

 

E quando os que obedecem perdem o respeito,

o coração da cidade enfraquece,

como árvores sem raízes num vento hostil.

 

O ciclo é cruel: liderança sem consciência

enche o mundo de imposições vazias,

submissão sem discernimento

fecha portas ao que é justo e verdadeiro.

 

Somente onde há vergonha e respeito

reside a dignidade humana;

somente nela floresce a liberdade.

 

 

(Este poema inspira-se na reflexão de Georg Christoph Lichtenberg sobre poder, vergonha e respeito. Procura explorar como a perda de limites éticos, por quem comanda, e a perda de discernimento, por quem obedece, geram desequilíbrios na vida coletiva. Não se trata de um julgamento, mas de um convite à atenção, para que, mesmo diante de hierarquias e responsabilidades, permaneçamos conscientes da integridade e do respeito mútuo que sustentam qualquer sociedade.)

Os Loucos e os Cegos

Vivemos tempos em que os loucos guiam os cegos,

e o caminho se dobra sobre o próprio som;

vozes que gritam certezas sobre o vazio.

 

Os que nada veem acreditam ver tudo,

e os que nada sabem

erguem-se como mestres da razão.

 

A verdade perdeu morada,

anda de porta em porta, pedindo abrigo,

mas ninguém a reconhece,

porque a confunde com o espelho.

 

Entre risos e ruínas,

a humanidade tropeça em si mesma,

e ainda assim avança,

como quem sonha que caminha em linha reta

num mundo que gira sem parar.

 

 

(Este poema foi inspirado na frase de William Shakespeare “É a época: quando os loucos guiam os cegos.” É um olhar sobre a confusão moral e intelectual do nosso tempo, onde a certeza substitui a verdade e o ruído se disfarça de sabedoria.)

O Agora

Não há ontem,

nem há amanhã,

há apenas este sopro

que toca o peito e some.

 

O tempo é uma invenção dos que temem parar,

mas o instante não mente;

é aqui que tudo vive,

é aqui que tudo cessa.

 

Respira.

Não persigas o que passou,

não prepares o que virá.

O agora é uma nascente

onde o coração se lava

de tudo o que foi e do que ainda sonha ser.

 

Quem aprende a morar neste silêncio

descobre que o mundo

nunca deixou de o abraçar.

 

 

(Este poema inspira-se numa reflexão de Sêneca sobre a serenidade e o tempo. Recorda-nos que a mente humana tende a vaguear, presa ao que já foi ou ao que poderá vir, e que, nesse movimento incessante, perde o que é real: o instante  presente. Não é um convite à indiferença, mas à presença; a reconhecer que a vida acontece apenas aqui, neste agora que nos sustém e que, por si só, é suficiente.)

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Os Conscientes

Não há homens iluminados,

apenas conscientes;

aqueles que aprenderam a ver-se

sem fugir da própria noite.

 

Carregam as suas falhas

como quem leva uma lanterna trémula,

sabendo que a chama só existe,

porque há escuridão em volta.

 

Não pregam pureza,

nem prometem salvação,

apenas respiram fundo

e seguem,

um passo de cada vez,

entre o abismo e o milagre.

 

Sabem que a dor é mestra,

que o amor não é conquista,

mas entrega,

e que o perdão,

quando vem,

é um sopro silencioso

de lucidez.

 

Ser consciente

é olhar o mundo e não julgar,

é cair e reconhecer-se humano,

é continuar,

mesmo sem certezas,

porque a luz nunca foi destino,

mas caminho.

 

 

(Este poema “Os Conscientes” é uma reflexão sobre a experiência humana e a capacidade de olhar para dentro, sem ilusões. Não se trata de luz ou perfeição absoluta, mas da coragem de reconhecer a própria sombra e caminhar com consciência. Cada queda, cada gesto de entrega ou perdão, é um passo no entendimento do que significa ser humano. O poema não pretende julgar, mas oferecer um espelho para quem lê, um convite a sentir a própria lucidez e a aceitar que a consciência nasce na honestidade consigo mesmo.)