Nas entranhas da Terra,
onde a luz não chega
e o silêncio pesa como pedra,
desperta uma vida invisível.
Sysuimicrobiota,
nome difícil para um sopro antigo,
uma faísca que resiste
na escuridão mineral.
Não precisa de céu,
nem de ar,
nem de abundância.
Basta-lhe o que resta,
o impossível.
Enquanto acima
o humano contamina e esquece,
lá em baixo, em segredo,
ela purifica, filtra,
cura o que parecia incurável.
Um exército de invisíveis
trabalha sem glória,
sem aplausos,
como se fosse apenas terra,
mas é salvação disfarçada.
Talvez a lição seja esta:
não é no poder,
nem no brilho,
nem no barulho
que mora a esperança,
mas na pequena vida escondida,
que, silenciosa,
guarda a memória da cura
e nos oferece, sem pedir nada,
um futuro possível.
(Este poema nasce da descoberta do Sysuimicrobiota, um
microrganismo capaz de viver onde a vida parecia impossível. Mais do que uma
curiosidade científica, vejo nele uma metáfora poderosa: a esperança pode
habitar nos lugares mais escondidos e discretos. Tal como estas bactérias que,
silenciosamente, limpam e regeneram, também nós carregamos dentro a capacidade
de transformar e curar. A verdadeira força, muitas vezes, está naquilo que não
se vê.)
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