Eles têm uniformes,
têm drones,
têm tanques com nomes de animais
e dedos que assinam ordens como se assinassem contas
bancárias.
Têm discursos sobre “legítima defesa”,
mas não têm um só pão
para dar a uma criança que treme.
Aos olhos deles,
a fome é uma arma,
um cerco lento, uma corda invisível
atada ao pescoço dos inocentes.
Apontam metralhadoras a filas de corpos fracos,
como se a coragem fosse matar quem já está a morrer.
Chamam “multidão hostil”
ao desespero de um povo que só quer farinha,
água, abrigo.
Mas não são homens,
são vazios armados,
são juízes sem alma,
que condenam com o estômago cheio
e dormem sobre cadáveres que não veem.
Que nome se dá
a quem transforma o pão num crime?
Que justiça há
quando o tiro vem antes da migalha?
Há um lugar no tempo reservado aos infames
e lá, os que fizeram da fome um método
serão lembrados não como soldados,
mas como carrascos.
E nenhum escudo,
nenhum hino,
nenhuma bandeira
os salvará do juízo mais alto,
o dos olhos de quem morreu sem razão
e sem pão.
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