Há homens
que vestem a armadura
não por guerra,
mas por medo de se verem nus.
Homens que falam de honra
com os punhos cerrados
e calam-se
quando o coração treme.
Carregam no corpo o peso de um nome,
de uma casa, de um pai,
de uma palavra
que lhes disseram ser o único caminho.
Mas há noites em que algo os visita,
não o demónio que imaginaram,
mas uma ternura proibida,
uma lembrança escondida num gesto,
num olhar que durou meio segundo.
E então fogem
para os braços de mulheres que não tocam,
para discursos que soam a pedra,
para a multidão que aplaude
sem nunca perguntar:
“Tu... és feliz?”
Porque o espelho que carregam
é feito de vidro cego
e nele não se veem,
só um reflexo domesticado,
um vulto que aprenderam a representar.
Mas há um dia,
sem idade, sem nome,
em que o corpo já não obedece
e o silêncio antigo na garganta
grita.
Grita como quem ama,
como quem quer viver.
E ali, entre os cacos do que foi,
nascem homens,
não heróis,
nem mártires,
apenas inteiros.
Homens que deixaram de fugir
de si mesmos.
Homens que finalmente
são só,
livres.
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