No tempo em que os rios escreviam,
e o barro guardava a fala dos deuses,
um homem subiu ao zigurate
com olhos acesos de fogo antigo.
Traçou com estilete de bronze
círculos dentro de círculos,
nomes secretos de astros
que dançavam num silêncio maior.
O Sol, dizia ele,
era um olho que nunca dormia
e à sua volta,
filhos errantes contavam os dias
como quem mede o sopro dos deuses.
Ao seu lado, figuras de asas dobradas,
altas como ciprestes,
traziam nas mãos serpentes entrelaçadas
e bastões que cantavam ao toque.
Uns diziam: são gigantes,
outros: são estrelas com forma,
mas ele chamava-lhes irmãos.
Na última linha da tábua,
escreveu um nome que não se lê;
nem os escribas, nem os reis,
nem o pó milenar o decifraram.
Talvez fosse o nome do tempo,
ou talvez o nome do homem
antes de ter um corpo.
Sem comentários:
Enviar um comentário