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sexta-feira, 8 de agosto de 2025

As Crianças Não Sabem o Nome da Guerra / J.M.J.

As crianças não sabem o nome da guerra,

mas sabem do barulho;

de casas que caem como brinquedos partidos,

do som que rasga o céu antes de rasgar a carne.

 

Sabem correr,

sabem esconder-se debaixo de camas

que já não têm colchão,

em escolas sem quadros,

em abrigos que são buracos.

 

Sabem que a mãe já não vem,

que o pai ficou debaixo das pedras

e sabem chorar sem fazer barulho,

como quem já aprendeu

que o pranto também pode ser punido.

 

Algumas ainda sorriem,

com os dentes sujos de pó e esperança.

Sorriem porque ainda não aprenderam a odiar,

porque não sabem que são alvo,

porque o coração ainda bate

com a inocência intacta.

 

E é isso que os condena;

serem pequenos demais para entender

mas grandes o suficiente,

para assustar generais com olhos cegos.

 

Alguém decidiu que não deviam comer,

que não deviam dormir,

que não deviam viver

e mesmo assim, elas vivem.

 

Com um pedaço de pão seco,

com uma boneca sem cabeça,

com um nome que ninguém ouve.

 

Elas não sabem o nome da guerra,

mas um dia o mundo

vai ter de aprender o nome de cada uma delas.

 

 

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