Não tinhas casa,
tinhas o mundo
e dormias onde o céu não te mentia,
e o sol era o único rei digno de ser seguido.
Chamaram-te cão,
e ladraste com orgulho
aos muros da hipocrisia,
às sandálias perfumadas dos sofistas,
às leis que premiam o ouro
e condenam a verdade nua.
Com uma lanterna
acendeste o ridículo da cidade,
não procuravas homens,
procuravas inteiros
de silêncio,
de coragem,
inteiros de não-precisar.
Disseste ao conquistador do mundo:
“Afasta-te. Estás a tapar-me o sol.”
E nesse gesto,
foste maior que todos os impérios.
Maior,
porque não querias mandar,
nem possuir,
nem ser lembrado.
Querias ser.
Os filósofos falavam da virtude,
tu eras a virtude com fome.
Eles escreviam tratados
e tu rasgavas-os com o olhar
de quem já não precisa provar
que vive.
E no fim,
ninguém sabe como morreste,
mas todos sabem que nunca te ajoelhaste,
porque há vidas que não precisam de fim,
só de eco.
Tu foste esse eco,
que ainda ressoa
cada vez que alguém diz
“basta”
ao teatro das aparências
volta ao essencial.
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