Enquanto Gaza queima,
os satélites giram em silêncio,
testemunhas frias de um massacre programado.
Uma criança, sem nome,
abraça o corpo da irmã mais velha
como se o calor da morte fosse abrigo.
Ela não chora,
os olhos já aprenderam que o mundo não escuta.
Um velho escava com as mãos
o que resta da casa:
um pedaço de pão,
um caderno com desenhos,
um dente de leite.
E sobre o céu cinzento,
as bombas continuam a cair
com a regularidade de um relógio suíço.
Na televisão, comentadores falam de “equilíbrio”,
“operações cirúrgicas”,
“direito à defesa”.
Mas Gaza sangra,
não no ecrã,
na carne.
(Este poema nasceu da impotência e da raiva perante o
extermínio em curso em Gaza, enquanto o mundo assiste, absorto nos seus
próprios ecrãs. Que a palavra, pelo menos, impeça o esquecimento.)
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