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terça-feira, 5 de agosto de 2025

Enquanto Gaza queima / J.M.J.

Enquanto Gaza queima,

os satélites giram em silêncio,

testemunhas frias de um massacre programado.

 

Uma criança, sem nome,

abraça o corpo da irmã mais velha

como se o calor da morte fosse abrigo.

Ela não chora,

os olhos já aprenderam que o mundo não escuta.

 

Um velho escava com as mãos

o que resta da casa:

um pedaço de pão,

um caderno com desenhos,

um dente de leite.

 

E sobre o céu cinzento,

as bombas continuam a cair

com a regularidade de um relógio suíço.

 

Na televisão, comentadores falam de “equilíbrio”,

“operações cirúrgicas”,

“direito à defesa”.

 

Mas Gaza sangra,

não no ecrã,

na carne.

 

 

(Este poema nasceu da impotência e da raiva perante o extermínio em curso em Gaza, enquanto o mundo assiste, absorto nos seus próprios ecrãs. Que a palavra, pelo menos, impeça o esquecimento.)

 

 

 

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