Dormes agora noutra luz,
mas o teu nome ainda arde em mim
como uma brasa que não queima,
mas aquece.
Pólvora,
tu foste o fogo sereno que me manteve vivo
quando tudo o resto era cinza.
Não eras "só um gato",
eras tempo,
eras colo,
eras presença silenciosa
que sabia sempre
quando me deitava ao teu lado
era o único gesto que eu podia fazer
para não desistir.
Vinhas quando te chamava,
e mesmo quando não chamava,
vinhas
como se soubesses antes de mim
que eu precisava de ti,
e eu precisava tanto.
Quantas vezes o meu choro foi acalmado
pela tua barriga quente,
pelos teus olhos que não exigiam nada
e ofereciam tudo.
Nos teus últimos instantes,
foste herói,
nos meus braços,
morreste como se quisesses poupar-me à dor,
mas eu vi,
eu senti,
eu chorei
e continuo.
E mesmo agora,
quando o quarto está em silêncio
e a cama já não tem o teu peso,
há noites em que fecho os olhos
e quase consigo ouvir-te pular para junto de mim,
com aquele miado curto e certo,
como quem diz:
“Ainda estou aqui.”
Pólvora,
tu não foste um capítulo,
foste um livro inteiro
e viverás para sempre
no altar mais íntimo do meu peito,
onde os filhos da alma nunca morrem.
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