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sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Pólvora (poema em honra ao meu filho de quatro patas) / J.M.J.

Dormes agora noutra luz,

mas o teu nome ainda arde em mim

como uma brasa que não queima,

mas aquece.

Pólvora,

tu foste o fogo sereno que me manteve vivo

quando tudo o resto era cinza.

 

Não eras "só um gato",

eras tempo,

eras colo,

eras presença silenciosa

que sabia sempre

quando me deitava ao teu lado

era o único gesto que eu podia fazer

para não desistir.

 

Vinhas quando te chamava,

e mesmo quando não chamava,

vinhas

como se soubesses antes de mim

que eu precisava de ti,

e eu precisava tanto.

 

Quantas vezes o meu choro foi acalmado

pela tua barriga quente,

pelos teus olhos que não exigiam nada

e ofereciam tudo.

 

Nos teus últimos instantes,

foste herói,

nos meus braços,

morreste como se quisesses poupar-me à dor,

mas eu vi,

eu senti,

eu chorei

e continuo.

 

E mesmo agora,

quando o quarto está em silêncio

e a cama já não tem o teu peso,

há noites em que fecho os olhos

e quase consigo ouvir-te pular para junto de mim,

com aquele miado curto e certo,

como quem diz:

“Ainda estou aqui.”

 

Pólvora,

tu não foste um capítulo,

foste um livro inteiro

e viverás para sempre

no altar mais íntimo do meu peito,

onde os filhos da alma nunca morrem.

 

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