Há sempre alguém que aprende
a falar com o ódio dos outros,
alguém que percebe o poder
de apontar, dividir, incendiar.
Esse alguém veste a máscara do herói
com as chamas dos desiludidos;
promete ordem,
mas alimenta o caos
como quem doma um animal selvagem
com fome de carne viva.
A multidão aplaude,
grita, marcha, destrói
mas não percebe
que a violência é uma roda,
e que quem a põe em movimento
é o primeiro a ser esmagado
quando ela já não precisa de comando.
O grupo, desfeito, procura coesão
e no meio da poeira,
procura um corpo onde depositar a culpa.
Não importa o passado,
nem a origem da ruína,
é preciso um rosto,
um só,
para que os outros
possam respirar juntos de novo.
E assim, o instigador torna-se vítima,
o orador é silenciado,
o rosto queimado é afastado da praça,
não por justiça,
mas por necessidade.
O ciclo recomeça
e outro virá,
mais feroz, mais hábil, mais convincente,
porque o desejo humano não cessa,
apenas muda de alvo.
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