Não é Deus quem mata em nome d’Ele,
nem a ciência quem mente com bata branca,
são os homens,
os cegos com poder
e os fanáticos com certezas,
que acendem fogueiras
onde antes se buscava luz.
Vivemos tempos em que o boato
vale mais que o estudo,
em que o vídeo de quinze segundos
derruba décadas de investigação.
Chamam “verdade”
ao que lhes afaga o medo,
e “mentira”
ao que lhes exige pensar.
Há quem veja demónios
em cada vacina,
e santos
em cada vendedor de conspirações.
Mas a realidade
não precisa da nossa crença,
apenas da nossa escuta.
A ciência não é perfeita,
é humana, é errante,
mas é o único mapa
que se redesenha com cada passo.
E o fanatismo,
seja ele em nome de Deus,
do povo
ou da liberdade,
não quer respostas:
quer obedientes.
Não te deixes enganar
por quem grita mais alto,
ouve antes
quem estuda no silêncio,
quem erra e corrige,
quem duvida e insiste.
Porque a verdade
não grita nem impõe:
evolui.
E a fé, se for luz,
não teme o microscópio.
(O poema “A Fogueira e o Microscópio” nasce da
inquietação que cresce num mundo saturado de ruído, onde a ciência é atacada
por teorias que se espalham mais rápido do que a verdade, e onde a fé, tantas
vezes sagrada, é sequestrada por fanáticos que usam o nome de Deus como arma.
Esta reflexão poética não é um ataque à fé verdadeira nem à dúvida saudável,
mas sim à ignorância militante que recusa aprender e à arrogância daqueles que,
sem escuta nem estudo, julgam saber tudo.
O poema afirma que a ciência, com todas as suas falhas
e correções, é uma expressão da humildade humana perante o desconhecido, tal
como a fé, quando iluminada, pode ser um acto de entrega e não de imposição.
Esta é uma homenagem à razão que evolui e à fé que caminha com olhos abertos.)
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