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segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A Fogueira e o Microscópio / J.M.J.

Não é Deus quem mata em nome d’Ele,

nem a ciência quem mente com bata branca,

são os homens,

os cegos com poder

e os fanáticos com certezas,

que acendem fogueiras

onde antes se buscava luz.

 

Vivemos tempos em que o boato

vale mais que o estudo,

em que o vídeo de quinze segundos

derruba décadas de investigação.

 

Chamam “verdade”

ao que lhes afaga o medo,

e “mentira”

ao que lhes exige pensar.

 

Há quem veja demónios

em cada vacina,

e santos

em cada vendedor de conspirações.

 

Mas a realidade

não precisa da nossa crença,

apenas da nossa escuta.

 

A ciência não é perfeita,

é humana, é errante,

mas é o único mapa

que se redesenha com cada passo.

 

E o fanatismo,

seja ele em nome de Deus,

do povo

ou da liberdade,

não quer respostas:

quer obedientes.

 

Não te deixes enganar

por quem grita mais alto,

ouve antes

quem estuda no silêncio,

quem erra e corrige,

quem duvida e insiste.

 

Porque a verdade

não grita nem impõe:

evolui.

 

E a fé, se for luz,

não teme o microscópio.

 

 

 

(O poema “A Fogueira e o Microscópio” nasce da inquietação que cresce num mundo saturado de ruído, onde a ciência é atacada por teorias que se espalham mais rápido do que a verdade, e onde a fé, tantas vezes sagrada, é sequestrada por fanáticos que usam o nome de Deus como arma. Esta reflexão poética não é um ataque à fé verdadeira nem à dúvida saudável, mas sim à ignorância militante que recusa aprender e à arrogância daqueles que, sem escuta nem estudo, julgam saber tudo.

O poema afirma que a ciência, com todas as suas falhas e correções, é uma expressão da humildade humana perante o desconhecido, tal como a fé, quando iluminada, pode ser um acto de entrega e não de imposição. Esta é uma homenagem à razão que evolui e à fé que caminha com olhos abertos.)

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