Não é um corte,
é um gesto de braços largos
que acolhem o peso de séculos.
Sob o aço e a corda,
o tronco respira
como quem sabe que vai partir,
mas não morrer.
As raízes, suspensas no ar,
ainda guardam a voz da terra,
o rumor das chuvas antigas,
o silêncio das luas que passaram.
E quando pousam noutra morada,
o vento reconhece-as,
as folhas retomam o seu murmúrio,
e a memória continua a florir
num solo que aprende a ser casa.
(Este poema foi inspirado numa prática preservada no
Japão, onde árvores centenárias, como carvalhos, cerejeiras e cânforas, não são
cortadas para dar lugar a estradas ou construções. Em vez disso, são
cuidadosamente retiradas, transportadas e replantadas noutro local, num gesto
que reconhece nelas não apenas vida, mas memória, espírito e história. É um
exemplo de como o progresso pode coexistir com o respeito pelo passado e pela
natureza.)
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