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terça-feira, 12 de agosto de 2025

Raízes em Movimento

Não é um corte,

é um gesto de braços largos

que acolhem o peso de séculos.

 

Sob o aço e a corda,

o tronco respira

como quem sabe que vai partir,

mas não morrer.

 

As raízes, suspensas no ar,

ainda guardam a voz da terra,

o rumor das chuvas antigas,

o silêncio das luas que passaram.

 

E quando pousam noutra morada,

o vento reconhece-as,

as folhas retomam o seu murmúrio,

e a memória continua a florir

num solo que aprende a ser casa.

 

 

(Este poema foi inspirado numa prática preservada no Japão, onde árvores centenárias, como carvalhos, cerejeiras e cânforas, não são cortadas para dar lugar a estradas ou construções. Em vez disso, são cuidadosamente retiradas, transportadas e replantadas noutro local, num gesto que reconhece nelas não apenas vida, mas memória, espírito e história. É um exemplo de como o progresso pode coexistir com o respeito pelo passado e pela natureza.)

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