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terça-feira, 5 de agosto de 2025

Os Mortos da Fila / J.M.J.

Esperavam trigo,

um punhado de arroz, talvez,

ou um pão seco para dividir com os ossos da fome.

Vinham sem escudo,

sem ódio,

com o ventre a gritar.

 

E o que lhes deram

foi chumbo.

 

Não havia armas,

apenas silêncio nos olhos,

e a esperança encolhida como uma criança

a dormir em pé.

 

Chamaram-lhes "risco",

"ameaça",

"massa indistinta",

mas eram pessoas,

tinham nomes ditos ao colo,

e mãos que antes seguraram brinquedos partidos.

 

Caíram uns sobre os outros,

como sementes pisadas

antes de germinar.

 

O sangue correu onde devia correr água

e o sol, sem piedade,

continuou a nascer sobre os escombros

de uma humanidade que se desfez.

 

Há uma ferida no mundo

que se abre cada vez que um corpo cai

a caminho do pão

e há covardes,

homens de uniforme e medo,

que matam a fome com balas

e dizem que cumprem ordens.

 

Mas há também quem assista

e escreva para que não morram duas vezes.

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