Esperavam trigo,
um punhado de arroz, talvez,
ou um pão seco para dividir com os ossos da fome.
Vinham sem escudo,
sem ódio,
com o ventre a gritar.
E o que lhes deram
foi chumbo.
Não havia armas,
apenas silêncio nos olhos,
e a esperança encolhida como uma criança
a dormir em pé.
Chamaram-lhes "risco",
"ameaça",
"massa indistinta",
mas eram pessoas,
tinham nomes ditos ao colo,
e mãos que antes seguraram brinquedos partidos.
Caíram uns sobre os outros,
como sementes pisadas
antes de germinar.
O sangue correu onde devia correr água
e o sol, sem piedade,
continuou a nascer sobre os escombros
de uma humanidade que se desfez.
Há uma ferida no mundo
que se abre cada vez que um corpo cai
a caminho do pão
e há covardes,
homens de uniforme e medo,
que matam a fome com balas
e dizem que cumprem ordens.
Mas há também quem assista
e escreva para que não morram duas vezes.
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