Veio do ventre que nunca vê o sol,
coberto de poeira ancestral,
com a memória de bocas fechadas
antes do tempo.
Não tinha nome,
mas carregava o peso dos selos partidos
e das mãos que ousaram abrir
o que queria permanecer fechado.
Chamaram-lhe sombra,
chamaram-lhe sentença,
mas dentro do seu corpo imóvel
batia um coração reverso.
Lá onde tudo apodrece,
um círculo aprende a formar-se,
não para alimentar a morte,
mas para dobrá-la.
Entre anéis calados
brotou um gesto que desfaz a multiplicação cega,
como se um eco, esquecido no calcário,
reconhecesse o erro e o interrompesse.
Não se trata de redenção,
nem de milagre,
mas de um pacto entre o limo e o olhar,
entre a ruína e a escuta.
Quem toca a podridão sem medo
pode ouvir a fórmula escondida
e do fungo que um dia selou a respiração,
ergue-se agora
um sopro que sabe curar.
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