Seguidores

terça-feira, 5 de agosto de 2025

O Ruído Venceu o Dia, Mas Não a Noite / J.M.J.

O ruído venceu o dia.

Encheu as praças de neon e promessas,

falou em nome de todos,

sem ouvir ninguém.

Gritou tão alto

que os poetas duvidaram da sua própria voz.

 

Os políticos sorriram na televisão,

e os donos do mundo afiaram decretos

com as lâminas da indiferença.

 

Os pássaros recolheram-se

e os poetas calaram-se, não por medo

mas por luto.

Porque a palavra também precisa de chorar.

 

Mas a noite chegou

sem pedir licença

e na escuridão, o ruído perde força,

fica só, eco de si mesmo,

sem luz que o disfarce,

sem olhos que o aplaudam.

 

E é então,

quando a arrogância se cala de cansaço,

que o verso sussurra,

primeiro tímido,

depois como um sismo

debaixo das ruínas.

 

Ainda há vozes,

ainda há lume

e a verdade, embora ferida,

ainda respira debaixo dos escombros.

Sem comentários:

Enviar um comentário