O ruído venceu o dia.
Encheu as praças de neon e promessas,
falou em nome de todos,
sem ouvir ninguém.
Gritou tão alto
que os poetas duvidaram da sua própria voz.
Os políticos sorriram na televisão,
e os donos do mundo afiaram decretos
com as lâminas da indiferença.
Os pássaros recolheram-se
e os poetas calaram-se, não por medo
mas por luto.
Porque a palavra também precisa de chorar.
Mas a noite chegou
sem pedir licença
e na escuridão, o ruído perde força,
fica só, eco de si mesmo,
sem luz que o disfarce,
sem olhos que o aplaudam.
E é então,
quando a arrogância se cala de cansaço,
que o verso sussurra,
primeiro tímido,
depois como um sismo
debaixo das ruínas.
Ainda há vozes,
ainda há lume
e a verdade, embora ferida,
ainda respira debaixo dos escombros.
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