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segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A Vida Invisível / J.M.J:

Nem toda a vida se mede em passos,

nem toda a alma se mostra no olhar.

Há existências que respiram no silêncio,

longe do tempo que corre e do mundo que exige.

 

Chamam-lhe sombra, fim,

porque não canta, não responde,

não constrói como antes.

 

Mas quem somos nós

para dizer o que é viver?

 

Talvez exista um fogo invisível

que só arde dentro,

um caminho que não se vê

mas que é trilhado em quietude.

 

Talvez a consciência se liberte

quando o corpo já não a prende,

e o que julgamos ausência

seja outra forma de presença.

 

Há quem aprenda de pé,

e quem ensine deitado,

e há jornadas que se fazem sem movimento,

e voos que não deixam rasto.

 

O mistério não se explica,

sente-se

e a compaixão

é saber ficar

mesmo quando não entendemos.

 

Porque a vida

não se define pela forma,

mas pela luz

com que ainda toca o mundo.

 

 

(Este poema nasce da reflexão sobre o valor da vida para além das aparências, das funções e das formas convencionais de presença. Muitas vezes olhamos para certas existências com pena, como se estivessem suspensas, perdidas ou incompletas, apenas porque não respondem aos padrões daquilo que consideramos uma “vida plena”.

Mas nem sempre aquilo que não compreendemos é ausência. Há formas de consciência, de caminho ou de missão que escapam ao nosso entendimento imediato. Este poema é um apelo à humildade diante do mistério da vida e da alma, mesmo quando o corpo já não se move ou não se exprime.

É também um convite a cultivar uma compaixão sem juízo, a lembrar que a dignidade de viver não se esgota na utilidade, nem na visibilidade. Porque às vezes, no silêncio e na imobilidade, uma alma continua a tocar o mundo de maneiras que não conseguimos nomear.)

 

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