Há dores que não se dizem,
porque doem para lá da linguagem
e há corpos que não morrem,
mas já não vivem.
Entre o grito e o silêncio
existe um lugar onde a dignidade
se dobra em espasmos
e o tempo deixa de ser tempo:
torna-se espera.
Não é a morte que se deseja,
é o descanso,
não é o fim que se procura,
mas um limite onde a vida
possa ainda ser escolha.
Nem sempre amar é insistir.
Às vezes amar
é aceitar que ficar
é mais cruel do que partir,
é saber que há portas
que só a compaixão deve abrir.
Ninguém pede a eutanásia
por capricho ou desespero fútil.
Pede-a quem conheceu
todos os corredores da dor,
quem já tentou ser forte
para lá do possível.
Libertar não é matar,
é ouvir o pedido
sem o cobrir de culpa,
é dar à vida
o último gesto de liberdade.
E nesse gesto,
tão íntimo, tão inteiro,
há mais amor
do que em mil resgates forçados.
(Este poema não é um manifesto, é uma escuta. Nasce do
reconhecimento de que o sofrimento, em certas circunstâncias, ultrapassa os
limites da dignidade humana. Defender a eutanásia não é opor-se à vida, mas
defender o direito à sua plenitude, incluindo o direito de dizer
"basta" quando viver se torna insuportável. Que cada decisão nasça da
consciência, do cuidado e da liberdade, e nunca da solidão ou do abandono.)
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