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segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Entre o Grito e o Silêncio / J.M.J.

Há dores que não se dizem,

porque doem para lá da linguagem

e há corpos que não morrem,

mas já não vivem.

 

Entre o grito e o silêncio

existe um lugar onde a dignidade

se dobra em espasmos

e o tempo deixa de ser tempo:

torna-se espera.

 

Não é a morte que se deseja,

é o descanso,

não é o fim que se procura,

mas um limite onde a vida

possa ainda ser escolha.

 

Nem sempre amar é insistir.

Às vezes amar

é aceitar que ficar

é mais cruel do que partir,

é saber que há portas

que só a compaixão deve abrir.

 

Ninguém pede a eutanásia

por capricho ou desespero fútil.

Pede-a quem conheceu

todos os corredores da dor,

quem já tentou ser forte

para lá do possível.

 

Libertar não é matar,

é ouvir o pedido

sem o cobrir de culpa,

é dar à vida

o último gesto de liberdade.

 

E nesse gesto,

tão íntimo, tão inteiro,

há mais amor

do que em mil resgates forçados.

 

 

(Este poema não é um manifesto, é uma escuta. Nasce do reconhecimento de que o sofrimento, em certas circunstâncias, ultrapassa os limites da dignidade humana. Defender a eutanásia não é opor-se à vida, mas defender o direito à sua plenitude, incluindo o direito de dizer "basta" quando viver se torna insuportável. Que cada decisão nasça da consciência, do cuidado e da liberdade, e nunca da solidão ou do abandono.)

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