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sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Os Cães Soltos / J.M.J.

Não digam que não viram;

a matilha saiu à rua com gravata,

a ladrar justiça com espuma nos dentes,

a rosnar pátria enquanto morde o pescoço dos fracos.

 

Chamam a isto debate,

mas é um circo de gritos onde a lama se fez doutrina,

e a verdade?

A verdade apodreceu ao fundo da cúpula.

 

Veem-se bandeiras, mas não há país,

veem-se deuses, mas não há compaixão,

veem-se homens de bem

a cuspir em crianças que não rezam como eles.

 

As redes são esgotos;

cada “opinião”

um prego cravado no corpo do outro

e ninguém diz basta, porque dá cliques,

porque o algoritmo alimenta-se de sangue.

 

Dizem que não é ódio, é liberdade,

mas a liberdade não cospe em refugiados,

a liberdade não insulta raparigas violadas,

a liberdade não manda matar o que é diferente.

 

É fácil ser valente com um microfone,

é fácil ser homem

quando se tem o povo por escudo

e o medo como espada.

 

Mas hão de cair, um a um,

como máscaras num teatro em chamas.

e quando só restarem cinzas,

serão elas a contar a verdade.

 

Porque o que hoje gritam,

há-de ser julgado pela história

e a história

não perdoa os cães soltos.

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