Não digam que não viram;
a matilha saiu à rua com gravata,
a ladrar justiça com espuma nos dentes,
a rosnar pátria enquanto morde o pescoço dos fracos.
Chamam a isto debate,
mas é um circo de gritos onde a lama se fez doutrina,
e a verdade?
A verdade apodreceu ao fundo da cúpula.
Veem-se bandeiras, mas não há país,
veem-se deuses, mas não há compaixão,
veem-se homens de bem
a cuspir em crianças que não rezam como eles.
As redes são esgotos;
cada “opinião”
um prego cravado no corpo do outro
e ninguém diz basta, porque dá cliques,
porque o algoritmo alimenta-se de sangue.
Dizem que não é ódio, é liberdade,
mas a liberdade não cospe em refugiados,
a liberdade não insulta raparigas violadas,
a liberdade não manda matar o que é diferente.
É fácil ser valente com um microfone,
é fácil ser homem
quando se tem o povo por escudo
e o medo como espada.
Mas hão de cair, um a um,
como máscaras num teatro em chamas.
e quando só restarem cinzas,
serão elas a contar a verdade.
Porque o que hoje gritam,
há-de ser julgado pela história
e a história
não perdoa os cães soltos.
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