Nas águas fundas onde o tempo adormece,
movem-se sombras com olhos de estrela,
baleias que sonham em espirais de bolhas,
círculos perfeitos traçados para nós.
Não é caça, nem dança, nem acaso;
é linguagem primeira,
sem palavras,
que pergunta sem voz:
“Vós que vos perdestes, ainda ouvis?”
Nós, cegos no ruído das máquinas,
vimos anéis feitos só para os nossos olhos;
trinta e nove suspiros de espuma,
doze vezes a chance de compreender.
Elas descem com o mundo nos flancos,
trazem em si o peso da memória do planeta,
e erguem, no silêncio,
um espelho de água,
onde vemos o que fomos
e talvez o que ainda podemos ser.
Ó irmãs de cetim e abismo,
se nos chamais do fundo,
é porque sabeis;
também estamos à deriva,
também procuramos por casa,
também cantamos,
mesmo sem saber se alguém ouve.
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