Seguidores

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

As Guardiãs do Fundo / J.M.J.

Há cantos que não se ouvem, só se sentem,

em pulsações que atravessam a espinha do mundo.

No ventre do sal, algo antigo desperta:

um círculo de bolhas,

como um olho que se abre devagar.

 

Elas vêm de antes da memória,

de quando a Terra ainda sonhava em silêncio

e não têm espadas, nem bandeiras,

mas a sua guerra é outra:

manter viva a harmonia do azul.

 

Cada bolha é uma sílaba sagrada,

cada gesto, um alfabeto líquido

e a quem as vê,

não com os olhos,

mas com o coração disposto,

elas dizem:

 

“Lembrai-vos do pacto.”

“Não sois donos disto,

sois parte disto.”

“Tudo o que ferem, ferirá também o vosso sangue.”

“Mas se amardes, ainda pode florescer o canto.”

 

E sobem as bolhas;

frágeis, perfeitas, fugazes,

como orações esquecidas a regressar ao céu.

 

(Este poema foi inspirado na descoberta recente de que baleias-jubarte formam círculos de bolhas apenas na presença de humanos, um possível gesto de comunicação. Através de linguagem simbólica, o poema sugere que esses seres ancestrais tentam alertar-nos para os desequilíbrios que causamos na natureza e recordam-nos o pacto esquecido entre a humanidade e o planeta.)

 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.