Ele sabia,
que bastava nomear o outro,
com desprezo,
mostrar o contorno do inimigo
no espelho mais próximo.
Sabia que a multidão,
sedenta de sentido,
seguiria a voz mais rasgada.
Abriu a jaula,
com um gesto teatral,
deu à fera
o nome da pátria
e chamou justiça ao primeiro golpe.
Mas o ódio,
esse rio subterrâneo,
não distingue margens,
corre até transbordar,
até consumir o chão
em que o próprio arauto
se ajoelha.
Não há domínio
naquilo que se incita;
só um instante
antes da avalanche
e depois,
o silêncio dos que a provocaram.
(Este poema foi inspirado na teoria do “Bode Expiatório” de René
Girard.)
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