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terça-feira, 5 de agosto de 2025

A Fera Solta / J.M.J.

Ele sabia,

que bastava nomear o outro,

com desprezo,

mostrar o contorno do inimigo

no espelho mais próximo.

 

Sabia que a multidão,

sedenta de sentido,

seguiria a voz mais rasgada.

 

Abriu a jaula,

com um gesto teatral,

deu à fera

o nome da pátria

e chamou justiça ao primeiro golpe.

 

Mas o ódio,

esse rio subterrâneo,

não distingue margens,

corre até transbordar,

até consumir o chão

em que o próprio arauto

se ajoelha.

 

Não há domínio

naquilo que se incita;

só um instante

antes da avalanche

e depois,

o silêncio dos que a provocaram.

 

 

(Este poema foi inspirado na teoria do “Bode Expiatório” de René Girard.)

 

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