Certos dias há,
em que a mente parece uma lâmina de água,
transparente o suficiente
para deixar ver o que estava escondido,
mas agitada demais
para garantir que a visão é estável.
É um equilíbrio estranho:
por um lado, tudo se torna mais nítido,
como se uma intuição antiga
finalmente aprendesse a falar;
por outro, há movimentos bruscos,
pequenos abalos,
como se a vida testasse
o que já estamos prontos para largar.
Dentro de nós,
a clareza e o imprevisto
dividem o mesmo espaço.
Os pensamentos aprofundam-se,
tocam zonas onde normalmente não vamos,
e algo sussurra,
como uma voz que vem
de um corredor esquecido:
“olha mais fundo,
não temas o que descobrires”.
Mas enquanto essa escuta se abre,
há também qualquer coisa que nos desloca,
uma tensão rápida,
um gesto que sai do lugar
antes que o controlemos.
Não é erro,
é sinal.
É a vida a dizer
que certas estruturas já não servem,
mesmo que ainda não saibamos
como construir as novas.
As emoções aproximam-se devagar,
com um calor sincero,
e o corpo responde
como se quisesse proteger o que é importante:
a casa interior,
os laços que sustentam,
o solo onde repousa a nossa verdade.
Nada disso está firme,
mas tudo está vivo.
E isso mantém-nos inteiros.
Entre o íntimo e o inesperado,
há uma lucidez que nos guia,
uma espécie de coordenação invisível,
como se alguém, dentro ou fora de nós,
pusesse as peças
em alinhamento secreto.
Percebemos pouco,
mas pressentimos tudo.
E nesse pressentimento,
mesmo que haja sobressaltos,
surge também uma paz estranha,
a paz de saber
que a mudança não precisa ser ruidosa
para ser real.
Alguns passos custam,
outros iluminam.
Mas todos, sem exceção,
conduzem ao mesmo lugar:
aquele onde deixamos de temer o novo
e começamos a reconhecê-lo
como parte do que somos.
(Poema inspirado nos aspetos astrológicos do mapa levantado para o dia 22
de novembro de 2025, calculado para Greenwich, traduzindo em linguagem poética
as energias simbólicas que atravessam o tempo e o espírito humano.)
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