Há dias em que o corpo é um abrigo cansado
e a alma parece um hóspede que quer partir.
Tudo pesa, até o respirar
se torna lembrança de outra vida.
O medo não grita, apenas sussurra:
“E se o caminho já acabou?”
Mas há algo, tênue, quase ausente,
que insiste em ficar.
Talvez seja o sopro de um anjo adormecido,
ou o eco de quem fui
a pedir-me mais um instante.
Então, silencio-me
e escuto o que ainda pulsa:
uma nota, um lume, um nome esquecido.
E percebo; o fim é apenas uma dobra,
um lugar onde o tempo se curva
para ouvir o que resta de nós.
Se eu partir, que seja leve,
como quem se dissolve em música.
Se eu ficar, que seja inteiro,
como quem regressa à vida
depois de se ter perdido no invisível.
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