Há forças que avançam pelo mundo
como lâminas sem rosto,
convencidas de que a violência
é uma forma legítima de ordem.
Não escutam fronteiras,
nem histórias,
nem o peso de quem vive na terra que pisam.
Chamam vitória
ao que apenas é devastação.
Do outro lado,
há uma terra exausta
de tanto suportar o impacto da mentira,
uma terra ferida,
mas indomável,
que não cede o nome
nem o direito de existir.
A guerra que lhe fazem
não é batalha,
é esmagamento.
É a arrogância de quem acredita
que destruir um povo
é igual a fazê-lo esquecer-se de quem é.
Mas há resistências que nascem do chão,
da dignidade pura
de quem já perdeu demasiado
para aceitar perder também a alma.
E há cansaços que se transformam em aço,
medos que se convertem em fronteira interior,
silêncios que são promessas
de que a noite não será eterna.
Quem arrasa acredita que vence;
esquece-se apenas de uma coisa:
a força que nasce de tentar sobreviver
é mais antiga do que qualquer tirano
e mais teimosa do que qualquer império.
Um dia,
quando o peso do sofrimento for demasiado
até para quem o impôs,
a história fará o que sempre faz:
retira o chão a quem o tomou à força.
E aquilo que hoje parece derrota
será lembrado
como o ponto preciso
em que o futuro recusou ajoelhar.
(Este poema inspira-se no estado atual da guerra entre
Rússia e Ucrânia, na crescente pressão internacional sobre o Kremlin e na
exaustão estratégica provocada por anos de violência unilateral. O texto
reflete a verdade profunda que atravessa estes tempos: nenhum poder construído
sobre mentira, crueldade e destruição se mantém íntegro. Mesmo quando o cenário
imediato parece favorecer a força invasora, as dinâmicas históricas, éticas e
humanas movem-se na direção oposta. O ciclo que agora se intensifica não é o
triunfo do tirano, é o início do seu desmoronar. A resistência ucraniana não é
apenas militar: é espiritual, cultural, identitária. E essa dimensão, que não
pode ser ocupada, será determinante no reequilíbrio futuro do continente. Este
poema afirma a convicção profunda de que o opressor cairá pelo peso das suas
próprias escolhas, e que a justiça, mesmo tardia, prevalecerá.)
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