Existem fases em que o mundo parece falar baixo,
não por falta de urgência,
mas porque a claridade cresce
no interior das contradições.
A memória abre uma porta lenta,
uma harmonia discreta entre o que amadurece
e o que insiste em permanecer.
É uma trégua rara, quase impercetível,
um gesto de maturidade que chega tarde,
mas chega.
Ao mesmo tempo,
há um movimento mais fundo, subterrâneo,
como se a própria vida quisesse reorganizar
a forma como sonhamos.
Antigos pressentimentos alinham-se
com possibilidades tímidas,
soprando a sensação
de que o mundo ainda pode ser mais amplo
do que o nosso limite.
Mas nem tudo se acomoda sem atrito.
O corpo guarda feridas
que nunca encontraram explicação justa.
Há impulsos que não entendemos,
reações herdadas de versões nossas
que tentaram sobreviver antes de nós.
E isso raspa, desvia, fricciona,
especialmente quando queremos avançar depressa
e a dor não acompanha o passo.
Talvez seja por isso
que a coragem precisa de paciência,
e a paciência,
de uma honestidade interior rara:
a que reconhece que nem toda a força
se revela em movimento.
Às vezes, força é parar,
respirar o desconforto
e deixá-lo procurar uma nova direção.
No fundo,
o que nos é pedido agora
é escutar o invisível:
as lições que o passado repete
até que as entendamos,
as tentativas de futuro
que procuram linguagem,
a pequena reconciliação possível
entre o que somos
e o que ainda estamos a aprender.
(Poema inspirado nos aspetos astrológicos, do mapa
levantado para o dia 16 de novembro de 2025, calculado para Greenwich,
traduzindo em linguagem poética as energias simbólicas que atravessam o tempo e
o espírito humano.)
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