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segunda-feira, 3 de novembro de 2025

A Multidão e o Eco

O indivíduo pensa,

pondera, pesa.

A multidão sente,

reage, ecoa.

 

Não é a razão que guia,

mas o medo que se espalha,

o ódio que arde,

a imagem que captura corações.

 

Bodes expiatórios erigidos,

culpados inventados;

a verdade dilui-se

no clamor da massa sem eixo.

 

Quem observa permanece atento,

sabe que o silêncio e o pensamento

são armas,

armas contra o furor,

armas contra a ilusão.

 

Compreender é resistir,

resistir ao canto das mentiras,

resistir à voz que divide,

resistir à multidão que esquece.

 

 

(Poema inspirado em reflexões sobre ideologias que fomentam o ódio, a divisão social e a criação de culpados, analisando os mecanismos de manipulação e poder.)

 

O Olhar que Vê

Olho, mas nem sempre vejo.

O mundo passa, luz e sombra,

e eu permaneço a tocar o ar

como quem tenta segurar o vento.

 

Entre o que vejo e o que sinto

habita um espaço silencioso,

onde a atenção aprende a escutar

e o olhar se abre ao que insiste em existir.

 

Ver não é apenas olhar,

é permitir que o invisível se revele,

que a vida fale em gestos subtis,

e que o coração reconheça o que os olhos não alcançam.

 

O Eco do Reflexo

Há gestos que respondem antes de pensar,

ecos antigos que despertam

sem aviso, sem vontade.

 

O mundo oferece sinais:

cores, sons, cheiros,

e o corpo conhece o caminho

antes que a mente se dê conta.

 

Aprendemos a repetir,

a dobrar-nos ao ritmo do que toca,

como se o tempo gravasse

memórias invisíveis no coração.

 

E mesmo quando o sopro da consciência chega,

há um murmúrio que insiste:

nem tudo nasce do querer;

algumas respostas já estão

onde o instinto e a vida se encontram.

 

 

Marcas do Mundo

Não nascemos feitos,

somos tecidos pelo toque do mundo.

Cada gesto que recebemos,

cada olhar que nos atravessa,

deixa marcas invisíveis

na pele da alma.

 

Aprendemos no silêncio e na ausência,

no riso, na reprimenda,

no eco de passos que nos precedem.

 

E assim nos tornamos,

não pelo que pensamos ser,

mas pelo mundo que nos molda

com mãos invisíveis,

sempre em movimento,

sempre a ensinar-nos a ser.

 

 

(Poema inspirado nas teorias de John B. Watson, sobre comportamento humano e aprendizagem.)

Entre o Vazio e o Som

No intervalo entre dois gestos

habita o mundo.

Nem cheio, nem vazio, apenas presente.

 

O ser é a ponte

entre o silêncio e o eco,

entre o que nasce e o que volta a ser nada.

 

Não há fronteira entre dentro e fora,

há apenas o movimento do olhar

que se recolhe para ver melhor.

 

O pensamento é um sopro,

não para dominar,

mas para tocar o ritmo secreto das coisas.

 

E quando o nome se dissolve,

a vida respira por si,

livre, sem dono,

como o vento que não precisa de direção.

 

 

(Poema inspirado em reflexões da filosofia oriental contemporânea sobre o vazio, o ser e o espaço silencioso, onde a consciência e o mundo se encontram.)

 

O Espaço do Ser

Entre o som e o eco

há um instante que respira;

nem palavra, nem silêncio,

apenas o ser a acontecer.

 

O vazio não é ausência,

é o chão onde tudo floresce.

É nele que a vida se dobra

para caber inteira no agora.

 

Nada nos pertence,

nem o corpo, nem o nome,

nem o pensamento que julgamos nosso.

Tudo é passagem,

movimento de um só sopro.

 

E talvez amar

seja apenas deixar o mundo ser,

sem o prender com o olhar.

 

 

(Poema inspirado no pensamento de Tao Kwok Cheung acerca do vazio como campo fértil do ser, onde o existir acontece em silêncio e liberdade.)

O Centro que se Move

Não fomos feitos para o centro,

mas para o movimento.

A Terra gira, e com ela o coração

aprende a deixar de ser sol.

 

O que chamamos de luz

é apenas o reflexo

de algo maior

que nos move em silêncio.

 

O universo não conspira,

ele respira,

e nesse sopro imenso

descobrimos o lugar certo:

nem acima,

nem no meio,

mas dentro do giro das estrelas.

 

 

 

(Poema em homenagem a Nicolau Copérnico (1473–1543), cuja visão heliocêntrica deslocou a Terra do centro do Sistema Solar e ampliou o horizonte humano.)

Entre Escolhas e Sombras

A mente caminha

por trilhos invisíveis,

cria atalhos que parecem claros

mas escondem curvas silenciosas.

 

Decidimos antes de perceber,

escolhemos antes de entender.

O mundo pesa

de forma desigual,

e o julgamento dança

com a ilusão.

 

Há uma lógica que não se vê,

pulsando sob o raciocínio consciente,

uma voz que sugere certezas

onde apenas existem sombras.

 

Reconhecer o erro

é iluminar o caminho.

Ouvir a dúvida

é aproximar-se da verdade.

 

E na interseção

entre o sentir e o pensar

descobre-se o humano,

tão previsível

quanto surpreendente.

Atenção

Olhar sem prender,

escutar sem cortar,

tocar o instante

com mãos que não possuem.

 

Ser inteiro no silêncio do outro,

deixar que o mundo fale,

existir apenas

como quem guarda

a chama que não é sua.

 

A atenção é ponte

entre o que dói

e o que respira.

Contato com o Real

O vento rasga o silêncio da pedra,

e a raiz sente o peso da terra que não mente.

O fogo consome apenas o frágil,

mas revela a forma do que permanece.

 

O mar, em cada onda que quebra,

mostra a verdade que não se esconde.

O céu estilhaça-se em luz,

e o sofrimento ecoa, lembrando:

somos feitos para ver, tocar, sentir

o que jamais se oculta.

 

Na pele da noite, a alma encontra

o real que sempre esteve lá,

quieto, paciente, aguardando

o instante em que a dor se torna ponte

entre o invisível e o vivido.

 

 

O Corpo que Vê

O mundo não é só visto,

é sentido, tocado, respirado.

Cada gesto abre portas invisíveis,

cada passo desenha caminhos no espaço.

 

O corpo lembra o que a mente esquece,

e no silêncio da perceção

tudo se revela:

a curva da mão,

o peso do ar,

a luz que atravessa a pele.

 

Não há distância entre o ser e o mundo,

apenas encontros subtis

onde olhar e toque se confundem,

onde sentir é compreender

e compreender é tocar.

 

Sujeito e Mundo

Não há eu sem mundo,

nem mundo sem eu.

 

Cada gesto atravessa o silêncio,

cada olhar toca a luz.

 

O vento que move as folhas

move também o coração.

 

Sou feito do espaço que me contém,

e o espaço se faz de mim.

 

Ser é respirar a totalidade,

sentir o que é Uno

antes de nomear.

 

A Luz do Peso

Há quem carregue o mundo

como se fosse seu ombro.

Cada gesto, cada passo

uma entrega silenciosa.

 

Sentir a dor dos outros

não é fraqueza;

é reconhecer

a tessitura comum da vida.

 

E nesse peso,

onde tantos se dobram,

há quem se descubra firme,

como quem mantém a chama

mesmo na sombra.

 

Compreender o sofrimento

é tocar o sagrado,

é tornar-se ponte

entre o que dói

e o que ainda respira.

Amar II

Amar,

amar-me,

ser amado,

ter coragem de dar

mesmo que nada receba.

 

Amar quem não ama,

como quem semeia silêncio

no solo árido da indiferença.

 

Amar quem ama,

deixar que o amor cresça,

livre, sem cercas,

sem prender seu curso.

 

Amar é permanecer íntegro,

mesmo quando o outro se afasta

e a culpa e o egoísmo persistem em ferir.

 

 

A Lâmina do Pensar

O mal avança calmo,

sem máscaras, sem estrondo,

na rotina que se repete

como se o mundo não pedisse perguntas.

 

Quem não pensa cede o espaço

onde a luz hesita em entrar.

Pensar é fender a escuridão,

desenhar claridade nos cantos esquecidos,

responder ao silêncio antes de obedecer.

 

A responsabilidade não pesa,

apenas chama:

perguntar, refletir,

antes de agir, antes de ceder.

A Sombra que Projeta

Há quem caminhe com mãos sujas de si mesmo

e tente deixar no mundo a marca da própria sombra.

 

Não se assume no peso do que faz,

e procura, nas faces alheias,

os rastos da sua dor.

 

Fala com voz de acusação

para ocultar o eco que ressoa dentro,

e culpa aqueles que apenas permanecem

firmes na própria luz,

como se a sua verdade precisasse de reféns.

 

Quem projeta medo e culpa

não conhece a liberdade que habita no olhar calmo.

 

A força de quem se mantém íntegro

não se curva perante julgamentos,

nem se contamina pelo veneno alheio.

 

E a sombra, cedo ou tarde,

descobre que o reflexo próprio não se engana:

o que se nega em si mesmo

não pode viver fora de si.