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segunda-feira, 21 de julho de 2025

Território de Sombras / J.M.J.

Não é o número de chegadas

que ameaça o país,

é o silêncio onde se esconde

a miséria que os recebe.

 

Homens amontoados como carga

dormem sobre chão frio,

em barracas improvisadas

por quem lhes vendeu o sonho

com recibo falso.

 

Chamam-lhes invasores,

mas são mãos que apanham fruta,

corpos que seguram paredes,

almas que aguentam a tempestade

sem fazer barulho.

 

Enquanto o Estado endurece fronteiras,

não endurece os castigos

para quem lucra com a escravidão moderna.

 

Fazem leis com rosto fechado,

dizem que protegem a casa,

mas esquecem que a casa arde

quando se ignora a dignidade

de quem nela entra.

 

É fácil legislar contra os invisíveis,

difícil é ver quem os usa como mercadoria,

difícil é ter coragem

para enfrentar as redes que os escravizam

dentro das nossas cidades.

 

Portugal não precisa de menos estrangeiros,

precisa de mais vergonha

por aceitar viver

do suor dos que cala

e tratar gente

como sombra.

 

Negam o direito de trazer um filho,

de chamar a mulher ao seu lado,

como se amar fosse um privilégio

e não a mais simples âncora no exílio,

como se querer alguém por perto

fosse um risco para a nação.

 

E quando a xenofobia se pinta de bom senso,

quando o populismo se mascara de ordem,

a justiça perde a fala

e a dignidade perde o chão.

A humanidade é despejada

sem contestação,

com selo e carimbo

e a promessa de que será melhor assim.

 

Mas não será,

não enquanto for mais simples expulsar

do que proteger,

mais rápido prender

do que escutar.

Difícil é olhar alguém nos olhos

e admitir que fomos nós

que lhe tirámos o direito

de respirar com esperança.

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