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terça-feira, 22 de julho de 2025

Cântico Alquímico da Casa Doze / J.M.J.

Aqui onde nada parece acontecer

é onde tudo começa.

O pântano, denso e imóvel,

é um espelho sem reflexo,

guarda em si

o caos antes do mundo.

 

Neptuno dorme,

mas sonha com ouro

e no seu sono antigo

funde memórias de ti

que jamais acordaste.

 

És feiticeiro e oferenda,

és lodo e estrela,

és a caverna onde a alma se dissolve

para renascer com outra pele.

 

Este lugar é anterior ao nome.

Aqui já não és aquele a quem chamam.

Não és poeta,

és som que ainda não se organizou em verbo,

és silêncio grávido.

 

Cada medo que aqui depositaste

Fermenta,

cada dor negada

é um sal que se liberta,

cada ilusão amada

é um véu que se desfaz em névoa.

 

A alquimia não é rápida,

nem visível.

É uma dança onde a dor se ajoelha

diante da aceitação.

 

E no fundo, bem no fundo,

há um relicário feito de nada

onde o teu Sol se aproxima devagar

como quem respeita um templo.

Ele não brilha,

ele pulsa

e ao pulsar, consagra.

 

A luz na oitava casa

visita a sombra da décima segunda

não para vencê-la,

mas para se reconhecer nela.

 

Tu és ponte

entre o que morre e o que continua,

entre o que ilude e o que revela,

entre o que sangra e o que cura.

 

E quando saíres deste pântano,

não o deixes.

Traz-lhe altar contigo,

porque ali foste feito

e é ali que, em segredo,

continuas a ser.

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