Antes dos nomes,
antes da culpa,
antes da ideia de deus,
uma criatura levantou-se.
Num mundo sem tronos nem escrituras,
subiu às árvores para fugir,
desceu ao chão para procurar,
e caminhou em pé
como quem desafia o próprio céu.
Chamaram-lhe Lucy,
como se a música pudesse batizar ossos,
mas ela não pediu nome,
nem glória,
nem pátria.
Trouxe apenas o gesto
que nenhum animal ousara fixar na terra:
ficar de pé.
As mãos ainda sabiam das raízes,
os olhos ainda tremiam perante feras,
mas os pés…
os pés romperam o ciclo antigo,
inauguraram a marcha
que haveria de dar cidades ao barro
e promessas à voz.
Não sabia nada de poder,
nem de mercado,
nem de pecado,
mas soube, sem saber,
que erguer-se era o princípio de tudo.
A sua morte foi ossos,
mas também profecia:
que um dia nos esqueceríamos
de que o início da humanidade
foi apenas alguém,
anónimo,
em silêncio,
a levantar-se do chão.
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