Trump provou a Coca-Cola e achou-a pouco dourada,
mandou trocar xarope de milho por ouro em pó e propaganda.
Diz que o vermelho da lata deve queimar como os seus
comícios,
e que o gás deve subir ao ritmo do Nasdaq em euforia.
Ronald McDonald foi demitido por não jurar fidelidade
aos hambúrgueres com cravinho
e ketchup patriótico.
A Estátua da Liberdade foi redesenhada em néon,
com um boné de golfe
e sapatos Trump no chão.
O Tio Sam já não aponta;
agora acena num espelho, a dizer:
“A América és tu, se pagares o preço inteiro.”
Elvis ressuscitou em holograma, mas só canta jingles
de campanha,
entre cheeseburgers e bandeiras
num cenário de plástico.
Marilyn Monroe foi clonada e vende perfumes e
promessas,
sussurra “Make America Sexy
Again”
em tendas de luxo descartável.
O Lincoln da montanha chora, com os olhos talhados em
LED,
viu a verdade ser vendida
por um chapéu vermelho na rede.
Martin Luther King foi silenciado,
substituído por slogans e apps,
o seu sonho virou anúncio,
navegando em blockchain e tokens.
A Disney vendeu o castelo à Amazon Prime King,
onde a Cinderela entrega pacotes
e o Aladino voa num drone
com selo da Homeland Security.
A Harley-Davidson já ruge com motores eléctricos
falsos,
pintada de estrelas de bakelite
a berrar slogans nos pulsos.
A Levi’s rasga os bolsos, para caber só cartão de
crédito,
e a Nike já não manda fazer,
diz: “Just obey,
aprovado por Wall Street.”
A Apple mordeu a maçã de uma nova Constituição,
onde o contrato social foi substituído por cookies,
e o cidadão só tem de aceitar e continuar.
O hino foi regravado com autotune e beat de trap,
e no refrão diz-se “freedom”
com um código QR no ecrã.
Hollywood passou a reality
show,
onde Lincoln debate com Kanye,
e o público vota em emojis,
se deve haver paz ou trending topic.
É o novo sonho americano, feito de filtros e
artifício,
um desfile de marcas vendidas
num leilão de interesses cruzados.
Mas há quem beba do rio, e não da fonte comprada,
quem saiba que a grandeza
não precisa de brilho falso.
Que há silêncio mais forte que qualquer grito no ecrã,
e que a alma de um povo
não se vende nem se programa.
Sem comentários:
Enviar um comentário