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sábado, 19 de julho de 2025

O Novo Sabor da América / J.M.J.

Trump provou a Coca-Cola e achou-a pouco dourada,

mandou trocar xarope de milho  por ouro em pó e propaganda.

 

Diz que o vermelho da lata deve queimar como os seus comícios,

e que o gás deve subir ao ritmo do Nasdaq em euforia.

 

Ronald McDonald foi demitido por não jurar fidelidade

aos hambúrgueres com cravinho

e ketchup patriótico.

 

A Estátua da Liberdade foi redesenhada em néon,

com um boné de golfe

e sapatos Trump no chão.

 

O Tio Sam já não aponta;

agora acena num espelho, a dizer:

“A América és tu, se pagares o preço inteiro.”

 

Elvis ressuscitou em holograma, mas só canta jingles de campanha,

entre cheeseburgers e bandeiras

num cenário de plástico.

 

Marilyn Monroe foi clonada e vende perfumes e promessas,

sussurra “Make America Sexy Again”

em tendas de luxo descartável.

 

O Lincoln da montanha chora, com os olhos talhados em LED,

viu a verdade ser vendida

por um chapéu vermelho na rede.

 

Martin Luther King foi silenciado,

substituído por slogans e apps,

o seu sonho virou anúncio,

navegando em blockchain e tokens.

 

A Disney vendeu o castelo à Amazon Prime King,

onde a Cinderela entrega pacotes

e o Aladino voa num drone

com selo da Homeland Security.

 

A Harley-Davidson já ruge com motores eléctricos falsos,

pintada de estrelas de bakelite

a berrar slogans nos pulsos.

 

A Levi’s rasga os bolsos, para caber só cartão de crédito,

e a Nike já não manda fazer,

diz: “Just obey,  aprovado por Wall Street.”

 

A Apple mordeu a maçã de uma nova Constituição,

onde o contrato social foi substituído por cookies,

e o cidadão só tem de aceitar e continuar.

 

O hino foi regravado com autotune e beat de trap,

e no refrão diz-se “freedom”

com um código QR no ecrã.

 

Hollywood passou a reality show,

onde Lincoln debate com Kanye,

e o público vota em emojis,

se deve haver paz ou trending topic.

 

É o novo sonho americano, feito de filtros e artifício,

um desfile de marcas vendidas

num leilão de interesses cruzados.

 

Mas há quem beba do rio, e não da fonte comprada,

quem saiba que a grandeza

não precisa de brilho falso.

 

Que há silêncio mais forte que qualquer grito no ecrã,

e que a alma de um povo

não se vende nem se programa.

 

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