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terça-feira, 22 de julho de 2025

Prece da Escuta (na primeira pessoa) / J.M.J.

Não és ausência,

és presença densa,

matéria do que ainda não se disse.

Não és vazio,

mas abrigo,

onde o indizível repousa.

 

Sinto-te no intervalo entre os gestos,

na pausa entre dois pensamentos,

no que vibra

quando o mundo se cala.

 

Não estás na pressa,

nem no ruído,

habitas a espera,

a respiração suspensa

que tudo sustém.

 

Ensina-me a ouvir o que não se pronuncia,

a tocar o que não tem forma,

a perceber o que se move

para lá do visível.

 

Que eu escute

a linguagem muda do céu,

o rumor das árvores,

o silêncio fértil da terra.

 

Que eu não perca o fio

do que é essencial,

que saiba ouvir os outros,

não para responder,

mas para ficar.

 

E que me ouça a mim,

sem pressa,

sem defesa,

como quem se senta diante de um rio

e deixa correr.

 

Sou mais do que os meus pensamentos,

sou o que se revela

quando o pensamento se retira.

 

E tu,

és ponte entre o que sou

e o que ainda posso tornar-me.

 

Que a escuta em mim seja presença,

clara, inteira,

com o coração desperto

e as mãos em repouso,

à espera do momento

em que a verdade se acenda.

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