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terça-feira, 22 de julho de 2025

O Cérebro Onde Somos Poeira / J.M.J.

E se tudo isto,

o céu que nos olha sem olhos,

o tempo que nos gasta em silêncio,

as galáxias que se espalham como acasos,

não for mais do que uma célula

num cérebro que respira eternidade?

 

Talvez não sejamos

senão impulsos breves

numa sinapse do infinito,

estrelas como faíscas,

vidas como sinais eléctricos,

passando entre ideias

que nunca saberemos nomear.

 

E se a realidade for só um fragmento,

um canto esquecido

de uma mente a sonhar-se a si mesma?

E se o nosso amor,

a dor,

o medo de morrer,

forem apenas ecos de um pensamento

que nos pensa,

sem saber que existimos?

 

Pode parecer impossível,

mas o impossível

é só o nome que damos

ao que ainda não alcançámos.

 

E nesse intervalo,

onde o mistério resiste

à geometria e à fé,

vivemos:

tão breves,

tão frágeis,

tão certos

de sermos reais.

 

Mas talvez sejamos só

um poema,

escrito no impulso

de uma mente

que jamais deixará de pulsar.

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