E se tudo isto,
o céu que nos olha sem olhos,
o tempo que nos gasta em silêncio,
as galáxias que se espalham como acasos,
não for mais do que uma célula
num cérebro que respira eternidade?
Talvez não sejamos
senão impulsos breves
numa sinapse do infinito,
estrelas como faíscas,
vidas como sinais eléctricos,
passando entre ideias
que nunca saberemos nomear.
E se a realidade for só um fragmento,
um canto esquecido
de uma mente a sonhar-se a si mesma?
E se o nosso amor,
a dor,
o medo de morrer,
forem apenas ecos de um pensamento
que nos pensa,
sem saber que existimos?
Pode parecer impossível,
mas o impossível
é só o nome que damos
ao que ainda não alcançámos.
E nesse intervalo,
onde o mistério resiste
à geometria e à fé,
vivemos:
tão breves,
tão frágeis,
tão certos
de sermos reais.
Mas talvez sejamos só
um poema,
escrito no impulso
de uma mente
que jamais deixará de pulsar.
Sem comentários:
Enviar um comentário