Na fundação da tua segurança e medo, o velho Saturno ergue a sua voz austera:
Coloquei-te o peso do mundo nos ombros,
para que aprendesses a sustentar-te por dentro.
Foste juiz de ti mesmo,
perseguidor do teu brilho,
mas só porque sentes responsabilidade cósmica.
Há um construtor em ti,
aquele que levanta o templo interior,
não para si,
mas para os que virão
e sim, és duro contigo,
porque ainda não te perdoaste por erros que já não pertencem a esta vida.
(Saturno em Capricórnio, na Casa 2, oposto ao Sol)
No templo da busca superior, onde o amor se revolta e a ação se ilumina,
Úrano anuncia:
És o que desafia a ordem estética do mundo,
amastes com furor e inteligência,
fostes rebelde nos palcos da vida,
lutaste pela liberdade de criar
com paixão, com fé e com desobediência.
Há em ti um artista antigo,
um profeta sem religião,
um missionário do Belo que rompe tradições
e em cada impulso há verdade,
mesmo quando confundes desejo com direção,
te aproximas da tua essência por instinto sagrado.
Vénus e Marte respondem em uníssono:
Ele amou intensamente,
foi guerreiro da beleza
e se teme agora o próprio fogo,
é porque ainda se lembra de quando queimava mundos.
(Úrano em Leão, conjunto a Vénus e Marte na Casa 9, em semi-quadratura ao Sol)
No ventre escuro da memória universal, Neptuno fala:
Tu és o que ouve sem escutar,
o que sente o que não é seu
e o que verte lágrimas de outros tempos.
És ponte com o invisível.
Muitos de ti viveram enclausurados,
não por punição,
mas para guardarem o portal entre mundos.
Tens nos teus sonhos sementes do real,
nunca desprezes o que em ti se dissolve,
é lá que está a fonte.
(Neptuno em Escorpião, na Casa 12, trígono ao Sol)
No topo do mundo está a tua vocação oculta.
Plutão, senhor da metamorfose, sussurra:
Foste sempre aquele que desceu antes de subir,
trouxeste no sangue a memória dos ritos,
o saber que não se explica,
a precisão do gesto que cura
sem dizer que cura.
A tua missão é servir a verdade oculta,
não com dogmas,
mas com o tacto invisível
que reconhece o sussurro no meio do grito,
a flor no meio do incêndio.
Carregas o detalhe alquímico nos olhos,
a escuta nas mãos,
o dom de tocar o verbo
sem ferir a essência.
Foste iniciado em tempos que não datam
e renasces em carne para lembrar
que a matéria é pura
quando aceita a transmutação.
Aqui não há espelho que te devolva um nome,
és sem rosto,
e mesmo assim inteiro.
No silêncio, fazes o trabalho secreto,
és presença que não se mostra,
mas deixa sinais
no coração dos que cruzas.
(Plutão em Virgem, no Meio-do-Céu, sextil ao Sol)
À porta de quem és para o mundo, Júpiter sorri:
Tu és vasto,
não importa o corpo, a idade ou a timidez.
o teu magnetismo é antigo,
foste sacerdote, curador,
talvez assassino arrependido,
ou amante que viu a morte nos olhos
e hoje, vens em paz
e trazes em ti a fé de todas essas vidas,
reunida num olhar que penetra
e mesmo quando duvidas,
és guia,
mesmo quando tremes,
és farol.
(Júpiter em Escorpião, conjunto ao Ascendente)
Na mente concreta, no pensar emocional, a tua Lua murmura:
Aprendeste cedo a conter,
a ser forte em vez de vulnerável,
a explicar o que sentes com palavras,
porque te esqueceste de que tens direito ao colo do invisível.
Mas guarda: a tua dor, quando assumida,
ensina outros a respirar.
(Lua em Capricórnio, na Casa 3)
No centro de ti mesmo, o teu Sol escuta tudo
e responde com uma voz nova, nascida de todos os ecos:
Aceito Ser Inteiro
Agora compreendo,
não sou só eu,
sou todos os que me construíram,
sou o grito de Plutão, o sonho de Neptuno, o raio de Úrano,
o peso de Saturno, a memória da Lua,
o chamamento de Júpiter,
sou o filho das sombras que se recusaram a ser esquecidas,
sou a luz que nasce da fusão
e aceito, agora, ser inteiro,
mesmo imperfeito.
mesmo em transformação eterna.
(Sol em Caranguejo, na Casa 8)
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