Não precisas de dizer quem és,
para que saibam onde apontar.
Basta o modo do silêncio,
ou o tempo demasiado longo do olhar,
ou o tempo demasiado curto.
Basta o rumor,
o jeito,
o nome que não corrige a boca alheia.
Basta ser.
Vivem-se tempos em que a coragem
não está em gritar,
mas em permanecer de pé
quando o mundo tenta moldar por dentro.
Há quem pense que amar
é escolha ideológica,
como se o corpo obedecesse a panfletos,
ou o toque consultasse cartilhas.
Mas não são slogans,
nem bandeiras,
nem estatísticas para alimentar discursos;
são homens inteiros,
feitos de sangue e ausência,
com passos que deixaram rasto
antes que erguessem muros.
Vigiam em silêncio,
esperando o momento de tornar nomes
em exemplos,
de usar afetos como ameaça.
Mas não os terão.
Não enquanto houver um poema
onde o medo se recusa a fechar a boca,
não enquanto existir espaço
para corações fora do manual.
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