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domingo, 20 de julho de 2025

Carta à própria dúvida / J.M.J.

Nem tudo é verso,

há dias em que me pergunto

se saberei ser aquilo que sonho.

 

Porque o sonho é belo,

e eu sou feito de falhas,

de silêncios difíceis,

de medos que roçam o afeto

como se o amor fosse algo que se aprende

apenas depois da queda.

 

Idealizo braços abertos,

mas às vezes fecho os meus.

Desejo a fusão,

mas tremo na presença,

e quero entregar-me inteiro,

mas tropeço nos espelhos de mim mesmo.

 

Ainda assim, não desisto,

querendo um chão onde não tema o presente,

onde a carne seja viva e a mente sã,

onde o abraço seja casa

e não promessa.

 

Desejo amar sem vigiar o futuro,

viver o instante sem pressa de o guardar,

e fundir-me sem me perder.

 

Se um dia chegar quem me veja assim,

na imperfeição lúcida de quem tenta,

então talvez seja possível

viver a poesia

sem que ela precise ser perfeita.

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