Não és linha,
nem ponte,
és peso;
uma espessura que se entranha,
um quebrar lento por dentro.
Sinto-te na demora dos gestos,
na cura que não chega,
no corpo que repete
o que já foi.
Carrego-te no peito
como pedra quente, inscrita a fogo
sem que eu peça.
Faz tempo que o primeiro sol me nasceu,
mas tudo me parece ainda
igualmente incandescente.
O passado não passa.
Não passa.
Move-se, por aqui, comigo,
respira entre palavras,
fala pela minha voz.
O que há de vir
já se anuncia
como dor antecipada,
um eco de algo antigo
a pulsar sob a pele.
Peço-te:
se fores deus, sê brando,
se fores sombra, sê breve,
se fores lição, sê simples.
Permite-me existir sem me perder,
mudar sem desaparecer,
confiar que há verdade
em cada instante,
mesmo quando a luz não se mostra.
E que haja um lugar,
secreto, real,
onde te ajoelhes
e me escutes.
Sem comentários:
Enviar um comentário