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domingo, 20 de julho de 2025

Balcão Azul / J.M.J.

Ali estava o céu,

num canto de luz artificial,

com signos a dançar numa tenda de sonhos

entre estantes, mapas e silêncios.

 

Um balcão azul,

não de mar, mas de zodíaco,

onde os destinos se desenhavam

com a ponta de um lápis.

 

Sem palco nem cortina,

diante de quem passava distraído,

tu estavas,

às vezes visível, às vezes não,

mas sempre presente,

como quem ouve o sopro de um ciclo

antes de o dizer em voz contida.

 

Sentado na nuvem dos teus dias,

entre o barulho das compras

e o peso dos mundos,

eras ponte e farol,

sem bússolas douradas nem promessas de salvação,

apenas o rigor de quem lê os símbolos

como se ouvisse o próprio tempo a falar.

 

Hoje, talvez não lembrem o teu nome,

mas lembrar-se-ão do homem do horóscopo,

da voz serena que uma vez

fez eco no íntimo.

 

E isso, meu caro, é eternidade

disfarçada de atendimento ao balcão.

 

 

 

(Entre 1996 e 1999, no Shopping Center das Amoreiras, existiu um balcão azul, onde se liam mapas do céu. O poema que se segue, nasceu da memória desses dias e do silêncio de tantas vozes que por ali passaram.)

 

 

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