Ali estava o céu,
num canto de luz artificial,
com signos a dançar numa tenda de
sonhos
entre estantes, mapas e silêncios.
Um balcão azul,
não de mar, mas de zodíaco,
onde os destinos se desenhavam
com a ponta de um lápis.
Sem palco nem cortina,
diante de quem passava distraído,
tu estavas,
às vezes visível, às vezes não,
mas sempre presente,
como quem ouve o sopro de um ciclo
antes de o dizer em voz contida.
Sentado na nuvem dos teus dias,
entre o barulho das compras
e o peso dos mundos,
eras ponte e farol,
sem bússolas douradas nem promessas
de salvação,
apenas o rigor de quem lê os
símbolos
como se ouvisse o próprio tempo a
falar.
Hoje, talvez não lembrem o teu
nome,
mas lembrar-se-ão do homem do
horóscopo,
da voz serena que uma vez
fez eco no íntimo.
E isso, meu caro, é eternidade
disfarçada de atendimento ao
balcão.
(Entre 1996 e 1999, no Shopping
Center das Amoreiras, existiu um balcão azul, onde se liam mapas do céu. O
poema que se segue, nasceu da memória desses dias e do silêncio de tantas vozes
que por ali passaram.)
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