Existe um tempo que não passa
mas também não fica.
Move-se comigo,
como uma sombra que não me pertence
mas insiste em acompanhar-me.
Sinto-o nos gestos mais simples,
quando abro uma porta
e percebo que a mão hesita
por causa de algo que não aconteceu aqui,
mas noutro lugar da memória,
sem que ainda o descubra.
O tempo fantasma não é um fantasma,
é um eco,
um desfasamento entre o que vivi
e o que continua a viver em mim,
como um pulsar atrasado
que não encontra o corpo
a que deveria regressar.
Às vezes é uma imagem breve:
um nome,
um cheiro,
um silêncio que vem de dentro
e me chama.
Outras vezes,
é uma vida inteira comprimida
num segundo que não obedece
ao relógio.
Carrega feridas antigas,
mas também caminhos que não escolhi.
É o que ficou por dizer,
o que não foi fechado,
o que se recusou a morrer
mesmo quando jurei
que já tinha partido.
Mas começo a aprender
que o tempo fantasma não me persegue,
pede apenas para ser escutado
como se fosse uma criança
que ficou para trás
andando agora nos meus sonhos
com os joelhos feridos.
E quando o acolho,
quando deixo que fale
com a sua voz desconhecida,
algo se realinha,
como uma rua que finalmente se endireita
depois de anos de plantas trocadas.
Há tempos que não passam,
porque são raízes,
outros não passam
porque são promessas;
o tempo fantasma está em ambos.
E, no instante em que o reconheço
como parte da minha respiração,
ele deixa de assombrar
e começa a guiar;
um guia estranho, sim,
mas verdadeiro,
onde o passado aprende finalmente
a chegar ao presente
sem medo.
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