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quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Tempo Fantasma

Existe um tempo que não passa

mas também não fica.

Move-se comigo,

como uma sombra que não me pertence

mas insiste em acompanhar-me.

 

Sinto-o nos gestos mais simples,

quando abro uma porta

e percebo que a mão hesita

por causa de algo que não aconteceu aqui,

mas noutro lugar da memória,

sem que ainda o descubra.

 

O tempo fantasma não é um fantasma,

é um eco,

um desfasamento entre o que vivi

e o que continua a viver em mim,

como um pulsar atrasado

que não encontra o corpo

a que deveria regressar.

 

Às vezes é uma imagem breve:

um nome,

um cheiro,

um silêncio que vem de dentro

e me chama.

Outras vezes,

é uma vida inteira comprimida

num segundo que não obedece

ao relógio.

 

Carrega feridas antigas,

mas também caminhos que não escolhi.

É o que ficou por dizer,

o que não foi fechado,

o que se recusou a morrer

mesmo quando jurei

que já tinha partido.

 

Mas começo a aprender

que o tempo fantasma não me persegue,

pede apenas para ser escutado

como se fosse uma criança

que ficou para trás

andando agora nos meus sonhos

com os joelhos feridos.

 

E quando o acolho,

quando deixo que fale

com a sua voz desconhecida,

algo se realinha,

como uma rua que finalmente se endireita

depois de anos de plantas trocadas.

 

Há tempos que não passam,

porque são raízes,

outros não passam

porque são promessas;

o tempo fantasma está em ambos.

 

E, no instante em que o reconheço

como parte da minha respiração,

ele deixa de assombrar

e começa a guiar;

um guia estranho, sim,

mas verdadeiro,

onde o passado aprende finalmente

a chegar ao presente

sem medo.

 

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