A luz e o espelho não dizem a mesma coisa;
o que pensas divide-se do que sentes,
como duas vozes que caminham na mesma rua
mas não se reconhecem.
Há perguntas que sobem ao peito
como quem procura uma janela aberta,
e respostas que ficam tensas,
presas nos beirais do pensamento,
sem saber onde pousar.
Talvez seja isto o clarão das viragens:
a mente a correr para longe
enquanto algo mais fundo te puxa o braço
e insiste:
escuta melhor.
E tu ficas no meio,
entre o impulso de seguir em frente
e a inquietação teimosa
de que há um rumo a ser corrigido
antes que avance demais.
Ninguém gosta de parar para ajustar feridas,
mas há caminhos que se tornam mais leves
quando aceitas olhar para o sítio onde ainda dói,
e percebes que a dor só te trava
quando finges que já passou.
A vida pede coragem
não para saltar,
mas para alinhar o que está desordenado,
mesmo que ninguém veja esse gesto,
e pareça pequeno demais
para justificar tanto ruído dentro de ti.
Se te sentires dividido,
não temas;
às vezes o mundo inteiro abre-se em duas metades
só para te obrigar a ver
onde tens posto a tua verdade.
E quando tudo parecer demasiado claro
e confuso ao mesmo tempo,
lembra-te:
há revelações que só nascem
no ponto exato onde o céu e a terra discordam.
(Poema inspirado nos símbolos astrológicos que moldam o espírito deste dia,
traduzido em linguagem poética.)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.