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quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Advertência à Espécie Pensante

Há um murmúrio a crescer

por baixo das cidades,

um estremecimento fino

que a maioria ainda não ouve.

 

É o som de um limite,

de um contorno que se aproxima,

como um animal cansado

que regressa ao lugar onde nasceu

para lembrar o que foi esquecido.

 

A espécie pensante,

na sua pressa cega,

insiste em acreditar

que nada ruirá

enquanto houver luz elétrica

e voz nas máquinas.

Mas o colapso não chega

como uma explosão;

chega como erosão,

como um fio que se quebra

depois de ter avisado

mil vezes no silêncio.

 

O mundo não cai por falta de recursos;

cai quando o coração da espécie

se fecha num punho

e a inteligência se torna cálculo.

Cai quando o poder se aperta

numa só mão

e chama destino

ao seu próprio reflexo.

 

A civilização

não é destruída por inimigos:

é corroída por dentro

por uma sombra antiga

que voltámos a nutrir,

a fome de domínio

travestida de progresso.

 

E, no entanto,

entre estas rachaduras

há ainda um ponto de escolha,

uma dobra mínima do tempo

onde a espécie pode recuperar o fôlego

e lembrar o que a trouxe até aqui:

o dom de pensar com a alma

e não apenas com o medo.

 

Se há um aviso,

ele é este:

não é o mundo que está a ser testado,

somos nós.

E a linha que se aproxima

é fina apenas para quem não olha;

mas, para quem vê,

já é um sulco profundo

a pedir mudança.

 

O futuro não está escrito,

mas está a pedir voz.

E cada gesto de lucidez,

cada recusa do cinismo,

cada ato que devolva humanidade ao humano

é uma pedra retirada

do desfiladeiro onde nos colocámos.

 

Este é o alerta,

não para assustar,

mas para acordar,

porque ainda há tempo,

mas já não há excesso.

 

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