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quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Hipátia

No coração de Alexandria,

onde o pó das palavras tocava o céu,

uma mulher escrevia círculos de luz

sobre o corpo da noite.

 

Falava de números

como quem decifra a alma das estrelas,

via o cosmos mover-se em silêncio,

e ensinava que pensar

era também um modo de amar.

 

Os discípulos vinham ouvir-lhe o verbo,

essa música entre o cálculo e o mistério,

onde o Uno respirava em cada linha,

e o saber era uma forma de pureza.

 

Mas a cidade ardia em fé e medo,

os deuses eram trocados por gritos,

e o pensamento tornou-se heresia.

 

Quando a multidão a arrastou pelas ruas,

não matou um corpo,

rasgou o espelho onde o espírito via

a sua própria razão.

 

Ainda hoje,

quando o fogo consome a palavra,

ouço o som distante do seu compasso

a desenhar, no escuro,

a geometria do eterno.

 

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