No coração de Alexandria,
onde o pó das palavras tocava o céu,
uma mulher escrevia círculos de luz
sobre o corpo da noite.
Falava de números
como quem decifra a alma das estrelas,
via o cosmos mover-se em silêncio,
e ensinava que pensar
era também um modo de amar.
Os discípulos vinham ouvir-lhe o verbo,
essa música entre o cálculo e o mistério,
onde o Uno respirava em cada linha,
e o saber era uma forma de pureza.
Mas a cidade ardia em fé e medo,
os deuses eram trocados por gritos,
e o pensamento tornou-se heresia.
Quando a multidão a arrastou pelas ruas,
não matou um corpo,
rasgou o espelho onde o espírito via
a sua própria razão.
Ainda hoje,
quando o fogo consome a palavra,
ouço o som distante do seu compasso
a desenhar, no escuro,
a geometria do eterno.
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