Não é o medo da queda que me assusta,
é o desejo de cair.
A vertigem não vem do vazio,
vem da liberdade de poder lançar-me.
O abismo não chama, apenas existe,
e o meu ser reconhece-se nele,
como se o fim fosse espelho
de tudo o que ainda não vivi.
Há um ponto, entre o medo e o impulso,
onde o corpo se inclina sem cair,
e é aí que o tempo pára,
e o pensamento treme.
Não temo a morte,
temo a dissolução do que inventei ser.
A queda seria simples,
o difícil é aceitar o voo.
Talvez o chão seja ilusão,
e o abismo apenas respiração do infinito
à espera que eu diga sim.
(Este poema foi inspirado na frase “A vertigem é o medo de não poder
resistir ao chamamento do abismo”, de Jean-Paul Sartre.)
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