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quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Alvo do Medo

O ódio se espalha.

O diferente é acusado.

E o medo torna-se lei.

 

Redes e discursos alimentam a violência.

Eles próprios são violência.

 

O poder cresce sobre a desconfiança.

E a liberdade recua.

 

Há sempre um culpado.

Menos o próprio.

 

Quem manipula o ódio

vive alienado do seu poder.

 

E os aplausos

acabam por secar de vergonha.

Pontes Invisíveis

Chegam de longe,

trazendo histórias no olhar

e mãos que não se resignam,

construindo o mundo em silêncio,

sem aplausos, sem elogios.

 

Trabalham, cuidam, persistem,

mesmo quando o ódio os aponta.

 

Entre muros erguidos pelo medo,

abrem caminhos de vida e esperança,

mostrando que a força não está no temor,

mas na coragem de continuar.

 

São o pulso discreto que move o presente,

o gesto firme que sustenta o amanhã,

a prova viva de que o mundo se faz

na entrega, no esforço, na solidariedade.

 

 

 

(Este poema, Pontes Invisíveis, reflete a importância da presença silenciosa e resiliente daqueles que chegam de outros lugares, carregando consigo experiências, histórias e trabalho. Sem buscar reconhecimento, contribuem para a vida coletiva, mostrando que a força não reside na hostilidade ou no medo, mas na coragem, na solidariedade e na persistência. É uma celebração da humanidade em ação, daqueles que constroem e mantêm os laços que unem pessoas e comunidades, muitas vezes invisíveis aos olhos da maioria.)

 

O Futuro em Gestos

Está no café que arrefece na mesa,

na mão que se estende

mesmo quando hesita,

na palavra que nasce tímida

e encontra resposta.

 

Não é distante,

é o passo que se repete

apesar do cansaço,

é o movimento discreto

que sustenta o dia inteiro.

 

O futuro está nos gestos que persistem,

quando tudo parecia sem voz.

Compasso Humilde

No meio do vazio,

um som mínimo insiste:

a chaleira que ferve,

o pássaro que pousa,

a respiração que entra e sai.

 

Não é resposta,

não é promessa,

é apenas o ritmo

de um mundo que continua.

 

E nesse compasso humilde,

sem certezas nem grandiosidade,

há um convite silencioso:

ficar, mesmo assim,

e deixar que o instante,

nu e pequeno,

seja o que nos sustenta.

 

Círculos do Abismo

Do ventre azul do mundo

erguem-se sinais invisíveis,

círculos de sopro,

portais de silêncio.

 

Não pedem alimento,

não buscam companheiros,

não seguem instinto,

são orações em forma de bolha,

mantras líquidos,

palavras que só a alma entende.

 

As jubartes sabem

o que esquecemos:

o mar é memória,

e nele pulsa uma verdade antiga.

 

Cada anel que se abre

é uma lembrança:

o tempo é frágil,

os oceanos sangram,

e o coração humano

tem de voltar a ouvir.

 

Talvez sejam saudação,

talvez advertência,

talvez profecia.

 

Mas uma coisa é certa:

não estamos sós no pensamento,

nem na vigília do planeta.

 

Há vozes no abismo

que nos chamam para acordar.

 

 

 

(Este poema nasceu do espanto diante da descoberta recente de que baleias-jubarte formam anéis de bolhas apenas na presença de humanos. Não como estratégia de caça, mas como gesto gratuito, quase lúdico, que parece atravessar a fronteira entre espécies. Li nesses sinais uma oração, não falada, mas respirada, que talvez nos convide a repensar a nossa relação com o mar, com a vida e connosco mesmos.)

Horizontes Reconfigurados

O velho mundo treme por dentro,

linhas de poder se dobram,

hierarquias desmoronam sem aviso,

e o que era rígido explode em possibilidades.

 

Ideias cortam o ar como raios,

arrancando tradições das raízes,

lançando pontes entre consciências distantes,

onde antes havia muros.

 

O trabalho, a educação, a vida coletiva

se reinventam sob mãos invisíveis,

redes de pensamento fluem,

ligando corações e mentes

num novo tecido de colaboração.

 

O saber não é mais aprisionado,

ele respira, pulsa, se multiplica,

e cada gesto se torna um experimento,

cada interação, um ato de transformação.

 

Amores e alianças mudam de forma,

já não cabem em moldes antigos,

e o humano aprende, às vezes a custo,

que liberdade e vínculo podem coexistir.

 

No turbilhão das cidades e da tecnologia,

entre revoltas e inovações,

o mundo se recria,

e o impossível de ontem

é hoje a fundação do amanhã.

 

 

(Este poema foi inspirado na entrada de Plutão em Aquário, que ocorreu entre 2023/24, com permanência prevista até 2044. Plutão simboliza transformação profunda, renovação e destruição do que é obsoleto, provocando processos de “morte e renascimento”, tanto no nível individual quanto social. Ao transitar por Aquário, signo associado à inovação, liberdade, tecnologia e à interconexão, sua influência propõe a reorganização de estruturas sociais, políticas e culturais, estimulando a criação de novos modelos de interação, colaboração e poder. O poema busca refletir esse espírito de transmutação: a quebra de hierarquias rígidas, a reinvenção do trabalho, do conhecimento e das relações humanas, e a emergência de um futuro integrado, inovador e conectado.)

 

Fagulhas

O ódio cresce e corrói,

vira veneno nos corações,

contagia, destrói, apaga o amor.

 

Quem odeia também se perde,

quem é odiado aprende a odiar,

e tudo se torna cinza, vazio.

 

Mas mesmo na cinza, há uma semente,

uma luz que insiste em brilhar,

um gesto que rompe o ciclo,

uma coragem que não se rende.

 

O amor persiste, silencioso,

esperando renascer no meio da destruição.

 

 

(Este poema nasce da observação do ódio que se propaga no mundo contemporâneo: a intolerância, a mentira e a culpa projetada nos outros. Ele reflete como o ódio corrói tanto quem o sente, quanto quem dele é alvo, consumindo a capacidade de amar e destruir a bondade que existe em nós. É uma reflexão sobre a necessidade de consciência, humildade e compaixão, lembrando que a destruição do outro é também a destruição de nós mesmos.)

Ventos do Mundo

O mundo parece um tabuleiro virado ao contrário:

as peças caíram, os jogadores discutem,

ninguém sabe bem quem manda,

ninguém aceita perder.

 

Mas por baixo da gritaria das armas

corre outra corrente;

invisível, paciente,

como um rio subterrâneo.

 

É a memória antiga da humanidade,

que já sobreviveu a guerras, impérios,

reis, generais e profetas.

Ela sussurra:

 

“tudo isto também passará.”

 

O caos que vemos agora

é como o trovão antes da chuva,

violento, assustador,

mas anunciando que o ar precisa mudar.

 

Sim, Gaza sangra,

a Ucrânia arde,

os EUA tremem por dentro,

mas também, em lugares anónimos,

crianças nascem,

sementes são plantadas,

poemas são escritos.

 

Há sempre uma primavera escondida no inverno,

um renascimento dentro do colapso.

 

E nós,

mesmo confusos,

mesmo frágeis,

somos portadores dessa centelha.

 

Podemos escolher não ser o eco do ódio,

mas a semente do que virá depois.

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Sinfonia das Conexões

As palavras rompem o silêncio,

viajam mais rápido que o vento,

atravessam cidades, continentes,

tocam mentes e corações

antes mesmo de serem pronunciadas.

 

Estradas se dobram e flutuam,

trens e veículos dançam no ar,

guiados por mãos invisíveis

que calculam o pulso do mundo

em tempo real.

 

O saber deixa as paredes da escola,

entra em casas, florestas, desertos,

em telas, fios e pensamentos;

cada mente torna-se farol

num oceano de infinitas ideias.

 

O olhar do artista já não é estático,

a tela não é barreira;

o espectador respira junto,

sente, toca, cria, 

e a obra se transforma

na vida que observa.

 

Tudo pulsa com urgência e liberdade,

tudo se conecta e se transforma;

o futuro emerge, ainda incerto,

mas vibrante, inventivo, coletivo:

um concerto infinito

de possibilidades.

 

 

(Este poema foi inspirado na entrada de Úrano no signo de Gémeos, que ocorreu em julho de 2025, com entrada definitiva em abril de 2026. Úrano é o planeta da inovação, da revolução e das transformações repentinas; Gémeos, signo regido por Mercúrio, representa comunicação, aprendizagem, troca de ideias e conexões. O trânsito de Úrano em Gémeos anuncia um período de mudanças profundas nas formas como nos comunicamos, aprendemos e nos relacionamos com o mundo. Novas tecnologias, métodos de ensino, sistemas de transporte e formas de expressão artística e social emergirão, transformando a sociedade de maneira rápida e disruptiva. Barreiras tradicionais serão questionadas, ideias antigas poderão ruir e surgirão novas maneiras de entender e interagir com a realidade. O poema busca captar esse espírito de transformação: a fluidez das conexões, a expansão do conhecimento, a liberdade criativa e a emergência de um futuro coletivo, inventivo e interligado. É uma visão poética de um tempo em que a comunicação, a aprendizagem e a expressão cultural se tornam motores de evolução global, abrindo caminhos para novas possibilidades.)

 

 

 

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

O Tempo da Travessia

Os mapas redesenham-se

com linhas de fogo,

fronteiras tremem,

nações testam a sua força

contra o peso da própria história.

 

Governos erguem muralhas,

mas as marés humanas avançam,

levando consigo fome, fé,

e a lembrança de terras perdidas.

 

O poder antigo racha,

coroas e pactos desfazem-se,

enquanto novas vozes

clamam por ordem, justiça

e por um futuro que não existe ainda.

 

Sonhos coletivos inflamam as ruas,

mas sem forma queimam tudo;

leis severas tentam conter a torrente,

mas sem visão sufocam a vida.

 

O mundo parte-se em dois sopros:

os que resistem ao devir,

e os que ousam atravessar o abismo.

 

E no eco do choque

restará a pergunta:

que nova ordem

pode nascer da queda dos deuses?

 

 

(Este poema foi inspirado na conjunção de Saturno e Neptuno em Carneiro, que acontecerá em fevereiro de 2026. Um encontro raro, ligado historicamente a momentos de colapso de estruturas políticas e religiosas, redefinição de fronteiras e mudanças profundas nos ideais coletivos. Pode ser um período de crises e instabilidade, em que antigas instituições perdem poder, migrações em massa ganham destaque e novos movimentos sociais ou espirituais emergem. Será um tempo em que ilusões ruirão, mas também uma oportunidade de transformar visões em realidades duradouras.)

Nascimento no Abismo

A luz apaga-se,

e, no vazio do eclipse,

o tempo respira fundo.

O que parecia eterno

revela-se frágil;

o que julgávamos sólido

se desfaz em veios de sombra.

 

As barreiras trepidam,

não pelo golpe de fora,

mas pela força oculta

que sempre cresce entre os alicerces.

 

Um sopro ancestral exige

o fim das ilusões,

e mãos invisíveis rasgam véus,

mostrando o rosto cru da realidade.

 

No coração da terra,

fogo encontra água,

e a fúria choca-se com o abismo.

O que não pode conviver

despedaça-se,

mas, da colisão, nascem sementes,

minúsculas, ardentes,

promessa de um novo princípio.




(Este poema foi inspirado no “Céu Astrológico” dos dias intensos de 21 a 24 de setembro, quando o céu apresenta conjunções, oposições e quadraturas raras entre Sol, Lua, Saturno, Neptuno, Marte e Plutão. São dias de abalos profundos, em que ilusões podem ruir e estruturas rígidas se confrontam com forças de transformação inevitáveis. O que parecia seguro pode revelar fragilidade, e o que estava oculto pode emergir com intensidade. É um período em que relações frágeis podem se romper, crenças e ilusões antigas se desfazem, estruturas pessoais ou sociais rígidas são confrontadas, e hábitos que já não servem ao crescimento se tornam insustentáveis. Mais do que medo, estes dias pedem clareza e presença: reconhecer o que não pode mais ser mantido e, ao mesmo tempo, escolher, com coragem, aquilo que realmente merece permanecer. É um tempo de confrontos e tensões, mas também de renascimento, de transformação consciente e de novos caminhos que se abrem no abismo.)

 

 

Armas Proféticas

Chamaram sacrifício ao sangue dos inocentes

um preço justo para manter a mão armada.

 

Diziam que a liberdade

se media em balas,

mesmo quando crianças

caíam no silêncio das escolas.

 

Mas a pólvora não escolhe.

O que se defende como direito

volta, um dia, como sentença.

 

E o profeta da morte,

ao aceitar o destino alheio,

não viu que já escrevia

sua própria elegia.

Entre Vozes e Caminhos

As palavras encontram ritmo,

não mais como armas,

mas como pontes secretas

entre corações atentos.

 

O desejo conversa com a coragem,

e, por um instante,

o conflito se dissolve

em cumplicidade inesperada.

 

Cada gesto contém um espelho:

ora ternura, ora desafio.

O encontro não é ausência de tensão,

mas a arte de transformar choque

em movimento criador.

 

E no fundo,

a vida pede apenas isso, 

um diálogo de forças,

onde mesmo a discórdia

pode ser raiz de harmonia.

domingo, 14 de setembro de 2025

A Dança Inteira

A árvore na divisa

sorri para um lado e se curva para o outro.

Para um, é sombra e alívio,

refúgio em dias de sol.

Para o outro, é muro que bloqueia a luz,

um obstáculo que cresce sem pedir licença.

 

Cada olhar é verdade,

cada sentimento é real.

A realidade não se divide,

apenas se manifesta em múltiplos reflexos.

 

E quem se aproxima com atenção

descobre que compreender o outro

não é negar a própria visão,

mas perceber a dança inteira da existência.