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sábado, 26 de janeiro de 2019

Sim ou não l João Marques Jacinto

Já não sei,
se não sei o que quero
ou se não quero
o que já sei.
E sim,
pode justificar um ou outro não.
E não,
pode até traduzir o receio de um eterno sim.
E não
pode ser sim,
mas querer-se não.
E o sim faz-se não
mas poderá também voltar a ser afirmação.
E o sim,
quando, é sim, é sim,
até que seja vencido,
por outro sim
ou por que não.

Nada se afirma ou nega
para toda a vida;
sim ou não?

Já não sei
o que é sim,
nem o que é não.

Nem tudo l João Marques Jacinto

Nem tudo, o que me aconteceu
no berço,
balança na minha inquietude.
Já nasci (pre)disposto
a alguns movimentos
e a certas pessoas,
e sou infinitamente aparentado.

Não sei
por que não tenho quaisquer lembranças
do início,
nem mesmo de quando vim aqui, assim.
O que sempre muito me marcou
nunca foi fácil esquecer,
nem (me) perdoar...

O pormenor encadeia,
e inibe a liberdade de coragem.
E não há verdade
que explique a totalidade.

E o fim
nunca se completará.

Do que somente tu l João Marques Jacinto

Nunca sentencies os outros,
por aquilo que és.
Aceita-os apenas como se apresentam,
e confina-te a constatar
o que em liberdade conseguem conceber,
para que aprendas a reverenciar
a tua própria individualidade. 

Tudo é bem mais,
do que, o que mal se vê
e somente tu.

Ambiciono l João Marques Jacinto

Deverei contestar
os males do mundo,
ou confrontar
a minha (im)perfeição?

O que me nasce
ao caminho,
vem-me de dentro,
e tem a dimensão
do que mereço
e o peso de tudo
o que (re)colhi
e acumulei,
e mal vivi.

Não é o que possuo
que me enriquece,
mas o que livremente
tento conquistar,
desnudado,
em mim.

Ambiciono
o que é simples
e a manhã.

(De)corre l João Marques Jacinto

Tudo (de)corre
nas profundezas
de mim;
um palco
onde me represento.
Tudo o resto
é mera ficção.

Em esforço
materializo,
e constantemente
me tento
e me repito,
e erro,
existo...

E construo-me
a todo o momento
em caminho,
ao Eu que tão sabiamente
me espera.

Se a morte é certa | João Marques Jacinto

Se a morte é certa
e a vida incerta
há que viver
certeiramente.

JJ

Há deuses l João Marques Jacinto

Há deuses no céu
de nossas cabeças,
que teimam em nos cansar,
por tanto crermos
que nos sejam servis;
por causas banais
ao que ficámos presos…
Quando há um universo
de tanta coisa por descobrir
e gente de corpo e alma
para (nos) abraçar
e outro(s) deus(es) a louvar
na liberdade de todo o possível.

Cada um de nós é parte do mundo,
mas não é (o) mundo.

Poucos são l João Marques Jacinto

Poucos são os que crescem
e têm coragem
de se confrontar
e vencer,
para que se cumpram…
A maioria perde-se
com o olhar
e na cobiça...
Negando-se ao tempo,
que é tão pouco,
quando tanto há por fazer.

Inteligência l João Marques Jacinto

A inteligência reina
Em todas as selvas
A justa predadora
Reclama-a
Como exclusiva
A ignorância

Indaguei-me l João Marques Jacinto

Indaguei-me.
Procurei-me nas origens,
descobri a escuridão.

Sou o trabalho
e a persistência,
sou a luta,
que constantemente se vence,
para que eu seja outro
e nunca o mesmo.

Ainda, ontem rastejava.
Hoje, distingue-me,
já não a postura,
mas o que escrevo.

Inventam-se mundos,
para que me (re)criem
e eu me iluda a essa importância,
e dependa,
esquecido do que valho.

Sei de mim
o suficiente,
para honrar todos os progenitores
e olhar a vida,
como o milagre.

Se não fossem os aviões,
já me teriam nascido asas.

Hoje l João Marques Jacinto

Hoje o céu se desenhou durante a noite até que se erguesse a consciência no horizonte de todas as manhãs
E brilhasse no fim deste oceano a esperança que sempre nos traz a Primavera

Olha para o que te deixa o vento no mar da tua essência
E como tanto está cada vez mais perto de ter sido
E o rei retorna ao trono do caminho onde também eu me espero

Sol de todos l João Marques Jacinto

Há uma Lua em nós
Que outrora nascera
E era dia
Mergulhada num pântano
Cerrado de medos e (des)ilusões
E nela se espelha
Abaixo do horizonte
Já posto
O Tempo enraizado
Firme na convicção
De que perdurará aquele momento
A Lua quase apagada
De tanto morrer
É surpreendida com o tempo do Tempo
Que se desprendeu da terra do ouro
Para lhe tocar com uma noite quente
E um último beijo
E fundem-se na inquietude
Para que se salvem almas
E um novo Tempo descenda

Tudo tem um termo
Para que haja a sorte
Do Sol de todos

Se o que verdes por aí ainda estiver verde l João Marques Jacinto

Não olheis para o lobo como se fosse unicamente fera
Nem para o cordeiro como se tivesse apenas génio brando

Há uma selva em nós por assentir
Um sentimento-mor a patentear 
E uma História a reescrever  
Para que não nos concebamos mais no engano
E alcancemos o viridário que nos vigia

Se o que verdes por aí ainda estiver verde
Vede o muito que ainda há para ver

Todos falam l João Marques Jacinto

Todos falam de Amor
Como se houvesse alguém
Que soubesse verdadeiramente o que é amar

Amor é muito mais do que este (a)mar
E a rochosa praia onde tudo (re)começa

(Só a mim dedico este poema)

Felicidade l João Marques Jacinto

Tristeza
Por meu desmedido ego(ísmo)
Alegria
Por meu imperecível amor
Felicidade
No agora
Sem quaisquer lembranças
Eu e mais Tudo
Um

Aprendo a sorrir
De peito aberto para o mundo
Em vez frente ao espelho

A nada me devo negar l João Marques Jacinto

A nada me devo negar
Para que no que surja escolher
Haja a certeza por tudo o que vivi
E em mim também foram
Desejaram
E souberam
Sem mais fazer de minha obscuridade
A ínfima desventura
De quem honestamente se quer sentir
Na franqueza de como se dá
De ser a verdade mais próxima
Em qualquer lugar
Com quem me ache
E jamais o risível da medida
E Sombra de multidão
Ou aviltamento por desagrado
A expectação excessiva do triunfador

A nada me devo negar
Para que me consiga fazer
Possuir
E sentir
O que de facto me foi atribuído
Como ente

Mudança l João Marques Jacinto

Incentivam-me à mudança
Como se eu mandasse no Universo

Do início à morte
Sou apenas os passos
Que o caminho ordena

Para quê fugir
Quando o beco de mim
Não tem saída

E assim me levo
Acreditando no maravilhamento
Que desvaneça qualquer sofrimento

A cenoura do meu asmo l João Marques Jacinto

A vida me foi persuadindo
De uma maneira ou de outra
Com uma cenoura mesmo à frente do nariz
A cenoura enfim se consumiu
E eu sem nunca a ter tomado
Ou então alguém a seguiu
Por já não ter outra por que correr
E eu ou prossigo à cata ao que a cenoura me queria crer
Ou definitivamente abato o asno de toda a minha imbecilidade
E assumo somente os desafios do agora

Intelectualidade do umbigo l João Marques Jacinto

Gosto dos medíocres,
quando a sua mediocridade
passa por não quererem ser demais,
mas apenas excelentes
no melhor que são e fazem,
por bem.

De deslumbrados
andam os ouvidos cheios,
sem que o essencial desça à rua;
a intelectualidade do umbigo
não é cebo para o pensamento.

Pensa l João Marques Jacinto

Quanto menos disseres,
mais maturo serás.
Porque se souberes escutar
entenderás o barulho.
Pensa.
Pensa; não deixes de pensar.
E jamais te distraias em silêncio com outras palavras.
Cria no silêncio de ti,
o Verbo que ressoe
e seja apenas proferido in alma.

Nunca te atraiçoes
usando os outros, em palavra,
como roupagem de vis silêncios.

Pensa.
Pensa com simplicidade.
E sente o que te podem trazer os ventos
que nunca param de suscitar.

Que Deus é esse l João Marques Jacinto

Que deus é esse,
Que possibilitou que um só homem
Gerasse dois filhos
E deles descendesse
O imperecível guerrear,
Que se justifica,
Somente por ele
Existir?

A fé pode até salvar,
Mas a religião tudo corrói.

O amor é l João Marques Jacinto

O Amor é tão abstrato,
Como incalculável é o Universo.
Se amassemos como O deciframos,
Não seriamos o que somos,
Não existiriamos.

Que nunca se confunda Instinto com Amor.
Nem mesmo o que sentimos,
Como verdade.

Feridas l João Marques Jacinto

Há feridas que nunca cicatrizam
Outras difíceis de sarar
As que acabarão por cerrar
Deixam verdugão
Se extinguirá com o tempo
Tal qual lembrança de profundo trauma

Olha-me l João Marques Jacinto

Se te esquecesses de todos os olhares
E apenas me visses,
Não numa imagem que de mim se possa fazer a qualquer contemplação,
Mas simplesmente como me dou diante de ti,
Na autenticidade da luz que atente,
Talvez te descobrisses num ver diferente,
E escassamente fosses o olhar que procuras na paisagem,
Onde tudo se confunde pelas semelhanças que nada proferem.

Se fosses quem és,
No que em ti visses, 
Jamais temerias a Sombra
Que sempre te acossa
E avistarias mais azuis
Acima de minha silhueta,
Onde apenas ressoam pássaros
Recriando céus para nós.

Livre sois de ver o amor
Que nos habita, quando cruzamos
Por entre disfarces o cerne da alma.

Olha-me com a atenção que merecemos.

Se l João Marques Jacinto

Se estivesse na vida por dinheiro,
Certamente estaria rico,
Mas seria mais pobre.
Nem tudo se pode ter,
Para que se atinja ser.

Na minha Terra l João Marques Jacinto

Na minha Terra
Não se nega a riqueza.
Indigna é a pobreza.

Na minha Terra
Há riqueza,
A distribuir,
Justamente.

Na minha Terra,
Também há muito pobre
De barriga cheia.

Igualar-se l João Marques Jacinto

Igualar-se
analisar
Para quê
o mesmo
sempre

Deixa-te
de ciência
e repensar
levar

Aceita apenas
o que te concerne

Não se pode nunca encarcerar
o que livre é

Não há verdade
para a verdade
nem tempo
para tanto saber

A Inteligência
é ininteligível
Impessoal
a divindade
inumana
inatingível
e o sonho
a realidade
do subterfúgio

Não quero ir ao céu l João Marques Jacinto

Não quero ir ao céu,
para além das nuvens de mim,
mas encontrar na Terra um lugar
que me permita imaginá-lo, ali,
e que aquele breve momento
me surja como eterno,
e só por ele valesse estar vivo,
onde o que é apenas sublime aconteça.

Será sempre já tarde l João Marques Jacinto

Ontem, será sempre já tarde
aos olhos de cada manhã.
Hoje, ainda é cedo demais até que tudo aconteça.
Mais logo nos virá a confissão
sobre o instante
do que será este futuro,
desde ontem,
até ao que, não mais haverá
e reste.

O instante que se perpetua
é o dos ponteiros do pesar.

Felicidade da Importância l João Marques Jacinto

Eu sou mais importante
Quando me dão importância
Principalmente por me relacionar
Com outros ainda mais importantes
É muito importante
Só me dar com importantes
Para que não me sinta sem importância
Todos os importantes
Mesmo que não sejam bem importantes
Mas porque há outros possíveis importantes
A darem-lhes importância

Politikós l João Marques Jacinto

Já não me circunda o muro
da cidade onde livre
deveria ser.

Hoje, sou um politikós
escravo.

Somos os que somos
mas só poucos são
e os que são,
pouco sabem haver.

E morremos
vandalizados;
a pólis esvai-se.

Vendo-me l João Marques Jacinto

Vendo-me,
não para usufruir
mas me comparar
ou superar,
destinguir,
seduzir...
Sobra tão pouco
para que possa gastar
no que me é essencial,
e diferente.

Sem querer invejo,
o que o outro inveja,
porque afinal todos invejamos.
E não saímos desta mesquinhez
de olhar sempre para o lado,
onde ficam aqueles que mais (se) iludem.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Hoje...

Hoje, os deuses descansam,
depois de tanto porfiar.
Amanhã, serão de novo estimulados,
pela incerteza dos ventos,
à disputa pelo avito de toda a simbolização do poder.
E as crenças vestir-se-ão de homens
E os homens acreditar-se-ão como deuses.
João Jacinto

Saint Louis

Saint Louis,
que mais nos irá afligir?
E assim deveríamos, até lá,
estar bem despertos,
ao dia em que partiste
já em território da rainha virgem...
Neste instante, se pressente a inquietação vinda da Sombra,
que agitará os mares da (des)ilusão
em conflito com uma espada
que fará de flecha do grande arco
para que se mate em Tempo;
desvaste ideologias e exacerbadas crenças,
instigue a novas estruturas...
E nuvens de pássaros apagarão a dona da noite,
com seus voos de fogo
e cada vez mais sumidas ficarão as estrelas
da mais recente constelação...
E por entre tantas incertezas
dos rios em saber seus leitos
a corrupta luxaria sofrerá enxurradas
e perderá mais uma de suas empedrenidas personas
no lodo que ela própria gerou;
afundando-se sem que se aviste
a mais quimérica barca de fictícia fortuna.
João Jacinto

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

E haverá sempre um Eu…

Os que se encontram a sul
Prendem-me ao que já não serei.
Os que ocorrem a norte
Constam desta metamorfose,
Que flui, até onde tiver de chegar,
Enquanto ao centro do Todo
Cingido pela esfera dos deuses
Sofro o equilíbrio do sem tempo,
Ao eterno caminho do agora.
E um rio são meus pés,
E a glória um rochedo que me pesa ao alto.
E haverá sempre um Eu à minha espera,
Fazendo-se passar por outro(s)…
E o primeiro choro é o da criança
E o derradeiro, é o do saber, em silêncio,
Por o que se provou
E do que ficou por haver...


E os Nodos trespassam a alma
Apontando o sentido da digna fortuna.




domingo, 26 de outubro de 2014

Amanhã e depois | João Marques Jacinto



(João M. Jacinto)

O conflito pela sublimidade impacienta o entendimento dos que se preservam no caminho das estruturas, viciados num poder que se absoluta e se contrai, sem vislumbrarem as derrotas necessárias à evolução.

Nos céus desenha-se, com ângulos de tarefas a ordem temporal da vida sujeita ao caos.
A dona da noite cai no túmulo sagrado, enquanto o guerreiro se exila na persistência do tesouro.
O vento sopra do mar coagido de incontrolada tempestade com o intuito de dissolver
o reino obtuso e circunflexo, acastelado de desumanidade.

Soltar-se-ão as esperanças, na confusão do terrífico e os que julgarem ter morrido,
estarão renovados de consciência.
Outros sucumbirão cegos, inabaláveis de orgulho e mesmo que vivos,
não mais serão lançados ao levante do conhecimento.

A noite será assombrosa de inquietação, sem vigília que a ilumine e os uivos dos lobos enfurecidos de frustração, famintos de vingança, perder-se-ão num deserto qualquer, sem dunas que os amparem, nem cadeira que os sustente,
amanhã e depois...






quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Nasci...


Nasci,
para revoltar-me;
não ser por mim,
mas em todos,
bem arejado
e por Logos,
e enquanto me aconteço
e acredito.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sempre à sombra...

Sempre à Sombra,
e o seu imenso pesar.
Poderia também ter
sossego,
e fugir,
mas não tenho tempo;
não posso parar
e ficar por aqui,
como se merecesse.

A Luz,
trabalha-se,
para que se aviste.

Não há iluminados.
Há os que iluminam.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O risco

Não há como minimizar o risco,
perante o que ainda se tem a viver,
mas sim agarrar as armas
que fomos construindo
para que pacientemente
nos consigamos transcender.

Para quê fugir do abismo
se é necessário conhecer a morte,
para que ainda nos seja possível mais primavera?

Em cada batalha,
o grande adversário está em nós.
Os outros são meros figurantes
que fabricamos para nos confundir
ao fim que mais importa vencer.

Amo-te...

Amo-te
e quero-te
sempre bem
e de mim, 
e distante,
para que não mais se fira
tão nobre sentimento.

O Amor, 
jamais morrerá!

Quebram-se 
hábitos...

Poucos são...

Poucos são os que crescem
e têm coragem
de se confrontar
e vencer,
para que se cumpram…
A maioria perde-se
com o olhar
e na cobiça...
Negando-se ao tempo,
que é tão pouco,
quando tanto há por fazer.

Há deuses

Há deuses no céu
de nossas cabeças,
que teimam em nos cansar,
por tanto crermos
que nos sejam servis;
por causas banais
ao que ficámos presos…
Quando há um universo
de tanta coisa por descobrir
e gente de corpo e alma
para (nos) abraçar
e outro(s) deus(es) a louvar
na liberdade de todo o possível.

Cada um de nós é parte do mundo,
mas não é (o) mundo.

domingo, 25 de agosto de 2013

O sonho de se fazer


Deverei ser arrogante
para com o hipócrita
ou me confinar ao silêncio
para que seja igualmente falso?

Nada pior do que fingir perfeição
em Terra de aprendiz,
como se houvesse essa glória,
sem que se seja antes e toda a vida mortal.

O sonho de se fazer,
nada tem a ver com a ilusão do que se é,
porque não há verdade para a existência.
Só o tempo ditará a importância do que se foi,
por tudo o que se causou.

Deve pesar-nos a responsabilidade do futuro
e não os erros que nos ensinaram a chegar até aqui.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Ainda é tempo

Não se herda a pobreza,
cresce-se de cegueira,
sofre-se submisso à culpa,
respeita-se em contrariedade,
a arrogância do preconceito,
sonha-se a dormir,
corre-se de pé,
luta-se com medo,
estimula-se o amador,
nega-se a aventura,
silencia-se o desejo,
foge-se do amor.

Cobre-se de negro
o espelho que reflicta
a coragem da alma,
habita-se na solidão
de um metro quadrado
e morre-se rodeado de gente,
no arrependimento
de nunca se ter vivido.

Impera a inteligência do Espírito,
ainda é tempo de abundância,
na riqueza de ser feliz,
diferente,
Eu.


João Jacinto
in (Re)cantos da Lua

Criar

Criar é uma forma de amar,
de dar e ser possuído.
É a explosão que vem do nada,
a divisão infinita das ideias
na multiplicidade de todos os sentidos.
É a fantasia da alma sofrida,
marcada pela realidade da carne.
É o entendimento do espaço no tempo,
na sensibilidade compactada de vontade sem limite.
É a força espontânea
da incontrolada angústia de viver.
É a transparência da semelhança
que nos sobrepõe.
É o envelhecimento do espelho,
quando mais nada resta de nós.

E Deus
criou o homem à sua imagem,
para que ele criasse a sua própria vida.



João Jacinto
in (Re)cantos da Lua

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Defendei-vos

Defendei-vos
dos encantadores de almas,
que vendem
a espiritualidade ao quilo;
merceeiros de promessas,
agoureiros de futilidades...

Do peneireiro,
no anagogismo do Verbo.

Não vos deixeis enganar
pela vã solidão.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Não há...

Não há nada mais plangente,
do que, o que é triste
disfarçar-se de júbilo.

Não há nada mais humilhoso,
do que invejar
o que nunca em si será.

Não há nada mais nefasto
do que, ter no querer a imodéstia
e se inventar de virtudes.

Não há nada mais nada
do que, poder ser tudo
e não se saber em si,
mas antes se crer por outros.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

domingo, 9 de setembro de 2012

quinta-feira, 7 de abril de 2011

(De) Quem somos, afinal?

Austeridade?!

E como combater este défice humano?

E qual o preço de se ser português,
sem se ser Portugal?

O que se fez da terra?
O que nos dá o mar?
E quem canta
o fado nosso?

(De) Quem somos, afinal?

domingo, 3 de abril de 2011

Sei lá

Não sei quem sou.
Nem nunca o saberei, ao certo.
Somente constato o que vejo
e decifro o que fiz
e de mim fui capaz de desvendar.
Sei lá, quem sou;
mais um, tão parecido a mim mesmo,
com outros,
como eu,
e a tantos bem mais diferentes!

Prendo-me demasiado à existência,
ao invés de viver-me.

Sei lá!...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Hipocrisia

Não há palavra mais terrificante
que defina a veracidade do hoje,
senão;
hipocrisia.

E continua-se a falar de Amor,
como se a santidade habitasse os corações
e as mentes fossem capazes de soluções eficazes.

A dor
e os lamentos,
a solidarização
e o abstracto,
e um altruísmo
metafórico.

sábado, 2 de outubro de 2010

Hou da Barca

Hou, da barca!
Para onde me levais?

Hou, prometedor de glórias,
com disfarces de timoneiro anjo!
E que de outros desfizestes,
como se nunca os tivesses sido;
o diabo
e o(s) companheiro(s).
Com moralidade,
na farsa do engano,
seduzistes,
ultrajastes,
e nos traístes…

Não sou fidalgo,
nem burguês.
Nunca enriqueci
por confiar dinheiro.
Não sou incrédulo
por ser imperfeito.
Tenho sangue judeu
mas não sou usurário.
Nem, alguma vez,
de procurador fiz.
E também não sou sapateiro...
Tenho outras mestrias!
Procuro ser justo,
sem ser corregedor
e justiceiro...
E até agora, nunca
me tentei enforcar.
Falo e escrevo,
sem muita à vontade,
promovo a (re)conciliação,
mas jamais serei alcoviteiro!…
E tonto, fui, somente
por vossa causa!

Não quero promessas
de paraíso,
nem viver neste vil inferno!
Quero um par de remos
e que se faça barca a Cidade;
bem guarnecida,
barca segura,
barca da vida!...

Hou, barqueiro!
Para onde nos levais,
que por aí,
não queremos ir?

Largai-nos
no próximo cais.
Lá, nos esperam
quatro bons cavaleiros,
a primavera,
e a liberdade!

Hou, da barca!
Hou, barqueiro!

Abaixa aramá esse cu...
E despejai aquele banco.



Foto
d`Auto da Barca do Inferno/Gil Vicente (Curso de Formação de Actores J.F.B.)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ai, Portug(ra)al, minha fratria!


O meu país
está doente,
desfalecido,
moribundo,
decadente,
sofre
de um social ismo
qualquer,
raro,
mutante,
mortal...

No meu país
ainda se crê;
(re)criar o fado,
(re)viver os sonhos
dos heróis,
e dos poetas
que tão bem
nos (re)inventaram,
e nos (re)conduziram
à (r)evolução...

É preciso
(re)descobrir
o Espírito,
(re)fundá-lo,
(re)povoá-lo!...
Ser
em português!

Ai, Portug(ra)al,
minha fratria,
ainda vos esperam
a glória,
o mundo
e eu!


José Heitor Santiago
in blogue
Dia do Sol

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

(R)evolução


A (r)evolução
esconde-se
no fundo do céu,
aguardando
ordem
para emergir
e a fé
desperta,
estranhamente,
os sentidos
a todos os ausentes
de realidade.

Quanto mais profundo
for o abismo,
mais forte será o apelo
ao (re)começo.



José Heitor Santiago
in blogue
Dia do Sol

O país que sonhei

Não é este o país
que aprendi a desejar,
me fizeram crer,
onde nasci
e me fiz...

Não é!...
Não pode ser!...

Já não existe o país que sonhei;
perdi-lhe as fronteiras
e a esperança.

Não sei da terra,
não sei de um pai,
nem como, aqui se (sobre)vive
sem afeição!...

Sei de alguns privilegiados
e seus cúmplices,
sei de muitos (des)iludidos,
e dos que fingem dormir...

Haja,
quem, ainda fale
a mesma língua,
para que, se entenda
igualdade,
e seja, voz forte
a alvorada,
e palavra
a liberdade,
e país para os sonhos.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Liberdade















Cansada, a Liberdade,
de tanto nos querer guiar,
deixa de ostentar barrete frígio,
e somem-se-lhe as cores de suas vestes
e desistem os ventos de lhes dar vida,
e cobre os seios com seus cabelos,
e debruça-se de tristeza,
humildemente meditando,
por nos sentir sem esperança,
e longe,
adormecidos,
possuídos por banalidades,
até capazes de cobardia,
resignados…

Mas, antes que se faça no céu,
primavera,
soará das ondas deste mar país,
a revolta dos acordes,
para que se arquitecte outro fado,
e sejam depois de tudo,
e por fim, jardim
e poesia,
e esta (ou outra) Liberdade,
na força de todo e qualquer verão,
(re)vestida de coragem
com as cores de todos nós,
em tons quentes, renascidos,
e Portugal.

E a Liberdade,
enfim, aniquilará o medo,
para que emirja o entendimento
do caminho.




Imagem
"La Liberté guidant le peuple" de Eugène Delacroix

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Viver em allegro

Só se compreende a alegria plena,
depois de se vencer
todo o desassossego.

Sorrir é complacência.
Viver em allegro é um desafio.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Falta-me...

Falta-me a humildade suficiente,
para que me consiga entender
sem conflitos.

Admiti-lo,
poderá significar,
que esteja mais perto
de alcançar o sossego
ou seja mais uma das farsas do engano
de um orgulho,
que não desiste de exacerbar-se.

O caminho é apenas um,
mesmo que se fuja,
para que se dê outras voltas,
milhentas, que sejam...
Sempre se volta,
para que se continue,
até que se justaponha essa vontade,
com a do carreiro do fado,
na aparente complexidade desta existência.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Fingidor


Escrevo-me
todos os dias,
e passo-me a limpo
para o papel,
quando tenho tempo
para fingir de poeta.

A minha caneta
está esgotada
de tanta dor
e sem tinta.

João Jacinto
in
(Re)cantos da Lua



Moeda


Não me deveriam cobrar
pelo que executo
com as armas de mim,
ou pelo que dou
de graça,
só porque também adquiri,
e satisfiz...

Inventem a moeda
que só a ela se pague,
em toda e qualquer
transacção.

Só dinheiro
deve dinheiro,
e ser controlável
até ao ínfimo
de seu valor.

domingo, 21 de março de 2010

A Grande Águia


Hoje, o poeta criou,
e não só a norte
se cumpriu primavera.
A poesia
soou, por entre (re)verso
de Sombra;
egoísmo e medo,
e poema feito de amor
e venceu em seu esplendor
como liberdade,
humana
e floriu no mundo
como esperança.

E a grande águia
continuará o seu voo
(re)desenhando o céu
e a palavra,
a (r)evolução.




Hoje, Dia Mundial Da Poesia, dedico este pequeno poema, ao Nobel da Paz, Barack Obama, e à sua intenção em beneficiar 32 milhões de norte-americanos, pelas reformas socais; o direito à saúde, também, hoje, por ele defendidas no Senado. Esperando que obtenha os votos suficientes, para o bem de todos, para que se cumpra primavera e a poesia floresça no mundo como esperança, e seja um exemplo de humanismo e de democracia.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Eternas crianças


E seremos eternas crianças.
O que mais dói é crescer
e a consciência.

O sonho
prende-nos à vida
para que
emerjamos
do que tanto
nos magoa,
e atemoriza,
e sejamos
também corrente
e ondas,
neste mar de todos,
iludidos de felicidade
e (re)criados à perfeição,
e fado...

Ninguém é inocente.

E seremos eternas crianças;
algumas são distraídas,
e outras mais espertas.

terça-feira, 9 de março de 2010

Mortais pecados





Olho-me ao espelho debruado a talha
Luminosamente esculpida dourada 
E pergunto-me pelo espanto das respostas
Na assumida personagem de rainha má
Quem sou para o que dou quem me dá
Miro-me na volumetria das imagens
Cobertas por peles enrugadas
Vincadamente marcadas por exageros expressivos
De choros por entre risos
Plantados nos ansiosos ritmos do tempo

Profundos e negros pontos
Poros de milimétricos diâmetros
Sombras cinzentas
Castanhos pêlos
Brancas perdidas entre cabelos
Perfil de perfeita raiz de grego
Boca carnuda gretada de secura
Sedenta de saudosos e sugados beijos
De línguas entrelaçadas
lambidelas bem salivadas

Contemplo-me fixado no meu próprio olhar
De cor baça tristeza
Desfocando a máscara de pálido cansaço
E não resisto ao embaraço de narciso
Sou o deus que procurei e amei em cumprimento do milagre
Ou o mal que de tanto me obrigar não reneguei  

Sou o miraculoso encantador a quem me dei
Ou a raposa velha vaidosa vestida de egoísta
Com estola de alva ovelha falsa de altruísta

No meu lamento a amargura por que matei
Sangrando a vítima trucidei-a num ranger de molares
Saboreei com as gustativas variados paladares
Viciado no prazer da gula
Como instintivo porco
Omnívoro

Rezo baixinho cantarolando
Beatas ladainhas de pecador
Que rouba e se perdoa
A cem anos de encarceramento

No aliciamento cobiçante por belas coxas
Pertença de quem constantemente me enfrenta
Competindo com as mesmas forças
Traindo-me na existência de meu possuir
Viradas as costas acabamos sempre por fingir

Entendo velhos e sábios ditados
Não os querendo surdinar em consciência
Penso de mim a importância demais
Que outros possam entender
Como comuns mortais

Minha é a inteligente certeza
De querer enganar e vencer

Sadicamente esbofeteio rechonchuda face
De idealista tímido
Que acredita e se deixa humilhar
Dá-me a outra para também a avermelhar

Vendo-me a infinitas e elegantes riquezas
Luxúrias terrenas orgias bacantes incestuosas
Sedas glamour jóias preciosas
O que tenha etiqueta de marca
Marcantemente conotada
Que pavoneie a intensa profundidade de minha alma
Ah Ah

Salvas rebuscadas brilhantes de prata pesadas
Riscadas de branco e fino pó
Prostituo-me ao preço da mais valia
Excita-me de travesti Madalena
Ter um guru para me defumar benzer e perdoar
Sem que me caia uma pedra na cauda

Adoro o teatro espectacular
Encenado e ensaiado em vida
Mas faço sempre de pobre amador
Sendo um resistente actor

Escancaro a garganta para trautear
Sem saber nem sequer solfejar
E gargarejo a seiva da videira
Que me escorre pelo escapismo de meu engano
Querendo audaciosamente brilhar
Descontrolando o encarrilhar do instrumento das cordas da glote
Com o do fole pulmonar
E desafino o doce e melódico hino

Sou no vedetismo a mediocridade
Que se desfaz com o tempo
Até ser capaz de timbrar sem ser pateado
Acelero nas viagens que caminham até mim
Fujo do lento e travo demais
Curvas perigosas apertadas
Que me adrenalina na fronteira do abismo
Fumo bebo em excesso
E converso temas banais por entre ondas móveis
Que me encurtam a pomposa solidão
Mas nada é em vão

Tenho na dicção um tom vibrado e estudado
De dizer bem as palavras que sinto
Mas premeditadamente minto
E digo de propósito sempre o errado

Sou mal-educado demasiado carente enfadonho
Que ressona e grunhe durante o sono
Tenho sempre o apressado intuito do saber
De querer arrogantemente chamar a atenção
Por me achar condignamente o melhor um senhor
Sem noção do que é a razão e o ridículo

Digo não quando deveria pronunciar sim
Teimosamente rancoroso tolo alucinado perverso mal-humorado
Vejo em tudo a maldade do pecado
Digo não quando deveria embelezar a afirmação 

Minto digo e desfaço-me propositadamente em negação

Mas fiz a gloriosa descoberta do meu crescer
Tenho uma virtuosa e única qualidade
Alguém paciente gosta muito de mim

Obrigado

Tenho que descansar


João M. Jacinto

in
(Re)cantos da Lua

domingo, 7 de março de 2010

Fui criança





Fui ver-me
no jardim a brincar,
pedalando com vontade
o triciclo da esperança,
a sorrir.
E chorei.

Saudades
daquela criança
e do mundo
que sonhei.


João M. Jacinto
in (Re)cantos da Lua

Escadas



Olha-os, lá de cima,
onde habitas
transitoriamente
na tua evolução.
Não percas tempo
no degrau
por ti, já pisado,
no longínquo passado.
Eleva-te com firmeza
no lance seguinte.
Apoia-te no corrimão,
alcança o patamar
e abre essas portas
de provações trancadas.

Que mania
de descer e subir
escadas...


João M. Jacinto
in (Re)cantos da Lua


Fotos
"DE COMO SER", espectáculo pela Oficina Permanente do Ator da UFSC, Brasil, sob a Direcção Artística de Carmen Fossari (Dezembro 2006). "Escadas" foi um dos poemas escolhidos de João M. Jacinto, assim como "Fui Criança", que serviram como texto base à interpretação dos actores.

sábado, 6 de março de 2010

(Re)começo


Espero que um outro Maio,
mas com gosto a Abril,
ou que um outro Abril,
de esperanças de (re)começo,
se cumpra
por ordem dos ciclos,
e faça de todos nós
inteira primavera,
e possamos todos de pé,
desenhar outro caminho
floridos de humanidade,
(re)construídos de sentido...

A mudança espreita,
lá, do fundo da noite,
encoberta,
como trovão por retumbar,
impelida de (r)evolução.
Abalarão todas as estruturas,
e o poder
dos arrogantes,
dos auto-indulgentes,
simplesmente ruirá,
assim como todas as dores,
males
e (des)enganos,
dos infelizes,
terão o seu terminus...

Será outro,
e breve,
o refrão,
deste Lusitano fado,
a ser cantado:

Portugal, Portugal, Portugal!
(21Abr.2009)


José Heitor Santiago
in
Dia do Sol
http://diadosol.blogspot.com


Conquisto-me

Convicto,
em esforço,
conquisto,
a toda a hora
a realidade
que me faça feliz,
e não mais teimarei,
por capricho, a fuga,
pelas (des)ilusões,
nem os aprisionamentos
em silencioso sacrifício
aos deveres,
sustentados pela culpa...

Espero
que a liberdade,
me invada,
e eu, a saiba habitar,
e quebre
com todas as rotinas
que têm servido
de contraponto
ao medo do caos,
e me (re)componha
em consonância...

Convicto,
em esforço,
conquisto-me.

(Aqui contigo, à mesa de uma cafetaria, entre amigável conversa, alguns cafés e muitos cigarros, num ponto alto de Lisboa).

sexta-feira, 5 de março de 2010

Uma maçã que estava proibida

Sobreviver,
luta de cada um.
Não deixar morrer,
lema de todos.

E o corpo envelhece,
naturalmente,
depois de comprometida
a performance
à continuidade.

E até Deus,
pela boca dos homens
estimula,
não o amor
da linguagem dos corpos,
mas antes a procriação.

A insegurança
é filha da contradição
e do medo,
e a mente questiona-se
desde que alguém
provou, corajosamente,
uma maçã
que estava proibida.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ilusor

Nunca me senti poeta,
no entanto gosto de escrever,
brincar com as palavras;
gosto de as ouvir gritar
quando me calo,
e de as (re)ler
para que me escute!...
Não sou poeta,
faço terapia quando versejo,
enquanto o mundo, lá fora,
andas às cambalhotas.
Às vezes, me pergunto
que fuga é esta,
que caminho é este,
o das palavras,
e se sou a cigarra
ou a formiga,
se escrevo por que devo,
se ambiciono, por escrever,
se gosto de poesia
ou mais de mim, poeta?...

E nunca me respondi;
continuo a querer ser poeta,
a acreditar-me, como pai,
para que me retarde
ao fim,
e ilusor da natureza...



(Este poema é uma resposta, sim, à poeta Carmen Fossari; à sua amável crítica poética/literária.)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Marinheiro




Ancoro-me aos teus desejos,
defendido de naufrágio,
sem leme aos sonhos,
nem velas de coragem,
puxado à força de preia-mar.
Nascem-me asas no dorso,
ao fogo de em ti
livremente ter poiso
e ser-te igual em confiança,
na serena brisa de qualquer entardecer.
Ungido pela doçura dos néctares,
perfumado pelas fragrâncias
das primaveras prometidas,
debruço-me no regaço do teu sorriso
e leio-te nos gestos poemas;
em chamas de rimas,
de amor em flor,
de vida,
a transbordar as margens
aos rios de tua voluptuosidade...
E exploro os mistérios sagrados do universo
no terno e eterno brilho
do teu complacente olhar...
Que sejam teus braços
um xaile sem penas
para me reconfortar
e proteger dos medos,
e que do teu corpo
se abra a porta de meu fortalecido ser
até crescer manhã,
sem que nunca se faça tarde.

E possa eu,
marinheiro,
fazer-me de novo ao mar...


Fotos;
Poema Marinheiro de João M. Jacinto, in VERBAIS NINHO DE PALAVRAS, represendado pelos actores Eliana Bär, Gabriel Orcajo, Mariana Lapolli e Augusto Sopran, da UFSC/Teatro, Brasil, sob a direcção artística de Carmen Fossari (Julho 2009).

domingo, 28 de fevereiro de 2010

E rio...


O rio espalha-se
até à eternidade
onde desagua,
rompendo o caminho,
esculpindo o leito,
arrastando sedimentos de memórias,
desde a nascente,
como alimento,
e vida.
E de verde (re)veste a paisagem
e de azul é espelho do céu...

E rio de contentamento
cada vez que o colho à mão
e me refresco,
numa qualquer, quente tarde
de mim.

Sinto a foz,
cheira-me a Outono,
mas contemplo-o
com os mesmos olhos de início,
acreditando na corrente
de sua configuração,
para afogar as palavras
de todos os silêncios.


(E RIO..., foi inspirado no poema O RIO RI, AS FLORES ADORAM, de Carmen Regina, in Divan.)


Ilustração/
Recanto...(óleo s/tela)de DOMINGOS FOSSARI
(http://fossaripintor.blogspot.com/)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Mandala das Liberdades


«Não tenho o caminho do Sol;
esse já foi,
mas o da brincadeira com os ventos,
e quero aceitar essa felicidade
e dançar com o futuro
em todas as (nossas) ruas.»

jmj

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

E o galo...

Não consigo pressentir,
a grandeza de tudo o que existe
e vai para além de mim
até ao infinito,
(endoideço de pensar),
nem imaginar,
o quanto ainda desconheço,
enquanto houver aldeia que me
habite
e prenda as vistas,
e a alma,
esconda a outros horizontes,
nunca contemplados
e seja surpreendido pelo inevitável,
e iniba de ser mundo
e Eu.

O caminho
nunca se constrói de certezas;
mas de imprevistos
e resoluções.
E há a desmedida ambição,
as (in)verdades da sobrevivência
e indissolúveis (des)culpas.

E basta que o galo
cacareje apenas uma vez,
e depois de tudo,
para que se ponha fim
à noite,
e se queira escutar
a luz
e ser manhã.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Tu, aí...

É bem possível que tenha chegado aos cem,
vivido, até aos cento e qualquer coisa, anos,
porque cada vez se morre mais tarde,
mas nem sei, se da melhor maneira.
Mas se Tu, aí, onde estiveres,
tomares conhecimento desta mensagem,
e de minha existência e a quiseres mudar
em qualquer altura, a meu pedido,
fá-lo, agora, quando ainda tenho cinquenta, já feitos,
em dois mil e nove, do calendário gregoriano,
e outro tanto, possa ainda usufruir.
Que me encontro aqui, por Sete Rios,
pertencendo a uma espécie do reino animal, a Homo Sapiens,
na Lisboa da saudade, onde desagua o Tejo,
num pequeno país europeu, chamado Portugal,
e que é banhado pela imensidão do Atlântico,
no terceiro planeta do Sistema Solar, o azul,
onde se luta e se mata pelos direitos à Terra e à vida,
e pelo poder,
e pela sobrevivência,
e em nome de deus(es),
e por prazer,
localizado entre muitos biliões de outras estrelas da Via Láctea,
a que integra com mais de três dezenas de galáxias o Grupo Local,
no Superaglomerado de Virgem,
etc, etc, etc…

Liberta-me de vez deste Ego, enorme, doentio,
herança milenar, que me abafa a inteligência
que me liga ao Universo,
que me prende à insignificância que não (pres)sinto,
e à Terra,
e à forma,
e ao estilo…

Porque sou o que nem sei,
e quero evoluir,
seguir o movimento da espiral,
sentir-me em casa,
e paz.

E não me canso de olhar para este céu,
onde se desenha o presente,
(relógio com mais ou menos dez ponteiros),
e de Te procurar mais além, nas estrelas,
mas se aí, Te visse estarias em outro tempo,
talvez, quando reinara o Luís XIV,
e eu aí, nem Te (re)conhecesse.

Haverá outro caminho,
e terei, sempre em dois mil e nove,
feito cinquenta,
e à Tua espera.

sábado, 12 de dezembro de 2009

O fanatismo

O fanatismo é a ignorância da fé,
a insegurança maior
de quem mesmo com asas de esperança
só consegue ter poiso
dentro de sua própria gaiola.

Quem crê, não duvida 
e aceita-se na vontade do Todo,
com a tolerância que eleve a sua diversidade,
para que se (r)evolucione.

Os dogmas não servem toda a realidade.


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O rei brilhou e o justo nasceu

O rei tornou-se
sucessivamente grande,
e logo brilhou
quando se escondeu;
saiu da longa noite
onde perecia visível
no inferno do indefinível
e na infinitude dos sentidos.
E a nona seta
apontava, perfeita no arco,
para as estrelas deste fado
preso de limites,
cantado por vozes
que não se cansam
em transcender o canto.
E ascenderam, nos corações,
de esperança, outros ventos.
E fez-se breve
a primeira estação;
por ser ainda tempo
de má colheita.

O rei brilhou
e o justo nasceu,
herdando uma cadeira
já morta.

E outras flores,
por fim,
animaram o futuro.

Mas o lírio
nunca (re)nasceu.


27091968
3843N
0908W

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Além Finis Terrea

Neste mar
de eternos marinheiros
e de sonhadores poetas,
com o último fogo
ateado por instintos nómadas,
ascendendo no nono degrau
dos reflexos rápidos
e da independência.
De animus ferido de morte
em derradeiro renascer de heroína,
escondido nas profundezas
de todo o bom espírito
onde se recolhe o Sol
à meia-noite,
bem debaixo dos pés do mundo,
em chão de tempo,
suportado por colunas
de vagas lembranças,
fortes de prima emoção,
e de libido de conquistas...
Espreita o negrume
da tempestade
e agitam-se ondas de descrença,
ameaçando o deus da revolta
e da liberdade,
a transcendência,
a mudança,
e o efervescer do caos,
a subida de marés vivas,
até ao cimo do céu, onde,
persiste, outro fado,
o reino do absurdo
e da utopia,
e, Cronos voltará a esforçar-se,
até que das margens do poder
inundadas e varridas
em todo o inverno,
nasça um cardume de coragem
e de saber,
num prometido ponto vernal, qualquer,
que conduza a barca do Império
além Finis Terrae,
à descoberta,
de sensatus humanus
Mar de Universo.

05101910
105235
3843N
0908W

domingo, 11 de outubro de 2009

Se o Homem...

Se o Homem
é ser inteligente
não pode haver
pobre e rico,
rico e pobre...
E assim, se prove, afinal,
a pobreza de seu espírito.

Há-de nascer
a elite dos homens bons,
sem mistérios,
nem silêncios e magias,
sem os disfarces do poder
que humilha
quem, sem querer,
carrega a Sombra da servidão.

É urgente
(re)criar o Homem,
ser inteligente
e humanista (re)criador.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

(De)corre...

Tudo (de)corre
nas profundezas
de mim;
um palco
onde me represento.
Tudo o resto
é mera ficção.

Em esforço
materializo,
e constantemente
me tento
e me repito,
e erro,
existo...

E construo-me
a todo o momento
em caminho,
ao Eu que tão sabiamente
me espera.

domingo, 20 de setembro de 2009

Ambiciono

Deverei contestar
os males do mundo,
ou confrontar
a minha (im)perfeição?

O que me nasce
ao caminho,
vem-me de dentro,
e tem a dimensão
do que mereço
e o peso de tudo
o que (re)colhi
e acumulei,
e mal vivi.

Não é o que possuo
que me enriquece,
mas o que livremente
tento conquistar,
desnudado,
em mim.

Ambiciono
o que é simples
e a manhã.

sábado, 19 de setembro de 2009

(R)evolução das passadas

Alcança-se, já o fim
desta última estrada,
há muito, por outros iniciada,
sem se pressentir lá, outra.
A paragem
será surpreendente
e animada
pela (r)evolução das passadas,
ao traçado
e às estruturas
do caminho do arco-íris.
E não chegará boa vontade
para que nasçam,
prematuramente,
flores de primavera...
Os frutos
levarão outro tanto tempo,
até que caiam maduros de saber
e de gente.

Ser levado pela estrada,
não é construir o caminho
que tenha o fim
que todos lhe queiram dar.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Democracia

Um
é solidão,
dois
é (des)(h)armonia,
três
(ou mais de três)
é democracia.

E não há três,
sem todos.

sábado, 12 de setembro de 2009

Ser o corpo que (re)vista nossa mente

Queria dizer-te tanto
e acabo por nada te dizer.
Ontem, sabia,
sabia e tinha tudo na ideia,
e o que penso, nunca tem fim
e não consigo parar de pensar,
o que tinha sonhado,
e dito a todos os;
necessitados como eu, de acreditar,
que me olharam com sorrisos
até plantados nas mãos,
que também me fizeram mil e uma promessas,
me deram muitas esperanças
e até me ofereceram um futuro novo,
que me convenceram de sua felicidade,
mas que não desistem de ambicionar mais e mais...
Queria dizer-te tanto
e acabo por nada te dizer.
Ontem, sabia,
sabia, mas hoje acordei,
como se tivesse um ancião (des)conhecido,
junto à minha cabeceira,
e que me avisasse,
que por ali ficaria, por mais de uma semana,
à conversa.
e que me aconselhasse
a sentar-me à beira da cama
e colocasse os pés bem firmes e presos ao chão,
enquanto com ele falasse
e para que o ouvisse, assim, com mais atenção,
e que me ajudasse a concentrar,
para que pudesse sentir a vibração da Terra,
e que apontasse para o firmamento
para que olhasse
e tentasse entender o infinito.
E eu nunca iria perceber
a Terra mexer,
e até me sentiria insignificante
quando ousasse invadir o céu.
E que constantemente, me questionasse,
sobre os meus sonhos
e a minha ingenuidade,
e que me obrigasse a ver e a analisar,
cá, para bem dentro de mim,
até ao infinito de minhas células,
e não sei o quê, de minha alma,
e eu mal entrasse,
não gostasse do que visse,
e chorasse, por mim e por ti e por todos.
E que me desse um corpo, já formado,
para que vestisse a minha mente,
e assim concretizasse os meus sonhos
e não alimentasse mais,
as evasões e os devaneios,
e acreditasse no Homem
e nunca nas utopias
de alguns homens,
que fingem sonhar
o Homem.
Queria dizer-te tanto
e acabo por nada te dizer.
Ontem, sabia,
nada sabia.
Hoje, pouco sei,
amanhã, talvez saibamos,
ou por mais uma semana,
ser o corpo
que (re)vista
nossa mente,
(e o amor).

Todas as horas têm um propósito
e há as idades do sentir.




(Este poema foi escrito, inspirado no presente aspecto astrológico Saturno/Neptuno.)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Mais esperto...

Por vezes,
acho-me mais esperto,
não, do que os outros,
(não, mas também)
mas, do que eu,
quando devo ser inteligente.
É-me difícil
a consciência.
Mas, basta-me
(d)escrever-me,
para que acorde,
abra o olho,
e me veja um pouco melhor,
com alguma nitidez...

É-me difícil
a consciência.
Sinto-me atulhado
de tantas emoções.
Mesmo que de nada
me lembre,
impede-me
à plenitude...

Dispo-me
de muitas roupagens,
sobrepostas,
camada por camada,
mas também temo
a nudez.
Vencerei,
certamente,
todos os males,
e farei da sombra, luz,
trabalhando,
arduamente, mais a vontade
do que a coragem...

Ou admiro...

Ou odeio,
preso à pretensão de ser mais,
que ninguém,
e ao (des)amor,
que só por mim sinto...
Ou adoro,
iludido, pela necessidade
de ter de alguém,
o que julgo nunca ser,
nem possuir...
Ou, simplesmente, admiro
o esforço de quem se diferencia,
humildemente,
e me ensina a ser parecido
com os demais,
e comigo,
para que seja mais fácil
o meu caminho
com o(s) outro(s)
e o pise, tão dignamente,
nas pegadas já desenhadas,
há tanto,
e à minha espera.

Não basta que seja,
ou tenha,
se não souber.
E haver,
quem me transmita...

domingo, 6 de setembro de 2009

(Re)negar

(Re)negar qualquer parte do todo
é não aceitar o todo de mim.
Crer em tudo
e ser o todo
é (con)viver,
anulando o conflito,
e (re)descobrir-me,
a toda a hora,
no que me habita,
desde sempre,
para além deste meu caminho.
Por detrás,
do que me dita a razão,
escondem-se muitas emoções
que desconheço.
Quanto mais
me procuro com os sentidos
menos me acho
na essência.
E a vontade
se é impessoal,
deverei estar sempre
bem atento,
às minhas atitudes.

Que mais poderei fazer
se não deixar,
que eu aconteça
e ser feliz com o todo de mim,
no todo de tudo?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Não sei se sei escrever

Não sei
se sei escrever.
Gosto do que as palavras me dizem,
e faço jogos com elas,
e até mesmo amor,
quando me seduzem
e me vêm ao pensamento
com afabilidade.
E esforço-me
para que todos me entendam
e ouçam as palavras
que escrevo,
minhas são, certamente,
e o sentido que lhes quis dar,
naquele preciso momento,
em que exactamente as escrevi,
como, com meiguice, as trabalhei,
nunca levianamente as usando,
sem pensar de acordo com o sentir,
e com tudo o que penso,
e sonho,
e amo...
Querendo-as sempre muito, dividir,
com os que também pensam,
e têm sonhos,
e me escrevem.
Ou também, e por que não,
com aqueles
que ainda não sabem pensar por si,
vivem o sonho errado
ou o de outros,
que não encontram o caminho das palavras,
nem se lembram,
nem de escrever,
nem sequer de falar alto,
nem de olhar ao espelho...
Não sei
se sei escrever.
Acho que já soube,
não me lembro.
Mas certamente já escrevi muito,
ou muitos lutaram por me escrever,
sem que os lesse o suficiente,
nem os ouvisse,
e outros morreram
pelo atrevimento de sua escrita,
e outros só muito mais tarde,
tão tarde, que nunca em vida o souberam,
foram (re)conhecidos
pelo que despertaram...
Mas, sinto-me impelido a isto,
de juntar palavras.
Repetitivamente mergulho-me
e pressinto-me,
mas é tão difícil ir fundo e tão longe...
E apanho palavras de fragmentos de histórias,
já escritas, à minha espera,
sem eu saber,
e vejo-me entre multidões,
que me falam, mas nada entendo,
e no meio, animais que nunca vi,
e todos me olham perplexos,
e todos sem querer me assustam,
talvez por não saber
ao certo onde ando,
nem onde fica a minha casa...
E rapidamente fujo
e reconstruo-me, (re)criando histórias,
com as minhas palavras,
e assim materializo o espírito
e sinto-me vivo,
e iludido,
e seguro no meio
de tantas palavras felizes,
e de todos os que conheço e amo...
Não sei
se sei escrever.
Mas por entre a inocência
dos vocábulos,
soletro baixinho
a frieza do silêncio de mim,
e reescrevo-me, até sempre,
até que a caneta se gaste
e haja futuro,
e um espaço em branco
neste meu papel.

Não sei
se sei escrever
tudo o que sei
e não sei.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Do que somente tu

Nunca sentencies os outros,
por aquilo que és.
Aceita-os apenas como se apresentam,
e confina-te a constatar
o que em liberdade conseguem conceber,
para que aprendas a reverenciar
a tua própria individualidade.  

Tudo é bem mais, 
do que, o que mal se vê
e somente tu.