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terça-feira, 8 de julho de 2025

Poema do Princípio Incerto

Há um sopro que estala no osso do tempo.

Não é grito, nem cântico,

é qualquer coisa que fende por dentro

e ordena: começa.

 

O velho império das formas

treme no fulgor do invisível.

Os mapas escurecem.

As palavras não chegam.

E mesmo assim alguém escreve.

Mesmo assim alguém resiste

ao conforto do fim.

 

Ergue-se um sinal sem nome,

frágil como um recém-nascido,

mas em brasa.

Ação que nasce sem saber

se é profecia ou desvario.

Mas nasce.

 

Não há promessas.

Há poeira, há abismo,

há uma construção que se faz com o que não se vê.

E o martelo é silêncio.

E o andaime, fé.

 

Os olhos que souberem olhar

verão onde a destruição

é só preparação do chão.

Os que não virem

clamarão por um salvador,

e os que mentirem

serão coroados.

 

Mas uma alma sem rosto,

vinda de eras esquecidas,

tomará forma.

E será o início.

 

Não do mundo.

Mas da coragem de o refazer.

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