Vós, que marchais com raiva no peito,
com as mãos fechadas e os olhos vazios,
vós que vos juntais nas sombras digitais
como quem procura casa num incêndio,
eu escuto-vos.
Sei que não é coragem o que move o ódio,
mas medo,
um medo antigo, escondido atrás do ecrã,
que vos sussurra que só sereis alguém
quando fizerdes outro cair.
Mas ninguém vos disse
que o amor também dá pertença?
Que o toque sincero pode ser mais forte
do que o rugido de mil slogans?
Fizeram-vos acreditar que ser homem é dominar,
que ser forte é calar, bater, expulsar,
mas a alma não cresce com gritos,
cresce quando se ajoelha ao lado da dor do outro
e a reconhece como sua.
Quem vos deu o medo, roubou-vos o rosto,
quem vos ensinou o desprezo, temia-vos livres,
quem vos apontou o estrangeiro como inimigo,
sabia que, juntos, vós e ele
podíeis destruir o trono do verdadeiro opressor.
Não sois monstros,
sois feridos, sois órfãos de sentido
e é por isso que ainda vos escrevo.
Que possais um dia rasgar a farda do ódio,
e tocar a vossa infância adormecida,
onde ainda se escutava
o bater puro de um coração que não queria ferir,
mas ser tocado.
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