Seguidores

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Àqueles que gritam no escuro / J.M.J.

Vós, que marchais com raiva no peito,

com as mãos fechadas e os olhos vazios,

vós que vos juntais nas sombras digitais

como quem procura casa num incêndio,

eu escuto-vos.

 

Sei que não é coragem o que move o ódio,

mas medo,

um medo antigo, escondido atrás do ecrã,

que vos sussurra que só sereis alguém

quando fizerdes outro cair.

 

Mas ninguém vos disse

que o amor também dá pertença?

Que o toque sincero pode ser mais forte

do que o rugido de mil slogans?

 

Fizeram-vos acreditar que ser homem é dominar,

que ser forte é calar, bater, expulsar,

mas a alma não cresce com gritos,

cresce quando se ajoelha ao lado da dor do outro

e a reconhece como sua.

 

Quem vos deu o medo, roubou-vos o rosto,

quem vos ensinou o desprezo, temia-vos livres,

quem vos apontou o estrangeiro como inimigo,

sabia que, juntos, vós e ele

podíeis destruir o trono do verdadeiro opressor.

 

Não sois monstros,

sois feridos, sois órfãos de sentido

e é por isso que ainda vos escrevo.

 

Que possais um dia rasgar a farda do ódio,

e tocar a vossa infância adormecida,

onde ainda se escutava

o bater puro de um coração que não queria ferir,

mas ser tocado.

Sem comentários:

Enviar um comentário